Artigo por Rodrigo Dumas Diniz
“Se tentou e falhou, parabéns. Tem gente que nem tenta.”
Quem nunca teve uma ideia brilhante, daquelas que parecem destinadas ao sucesso, mas que, por um motivo ou outro, acabam por nunca se concretizar?
O empreendedorismo está cheio de desafios e a minha experiência na criação de uma startup na área da psicologia não foi excepção. Neste relato, partilho as lições que aprendi ao aliar a psicologia ao empreendedorismo e o valor subjectivo das boas ideias. Não pretendo lamentar as razões que fizeram de mim um mau empreendedor, mas sim mostrar como esses contratempos me ajudaram a crescer na carreira.
Desde que me lembro, sempre me interessei por explorar novas ideias. Enquanto estudante de Psicologia, idealizava projectos, não movido pela ilusão de ser o próximo Steve Jobs, mas pelo processo criativo que envolvia. Foi durante a minha formação inicial de Psicólogo Júnior que aproveitei a oportunidade de combinar os meus conhecimentos em psicologia com um antigo interesse pela tecnologia. Assim nascia a Tangoo — uma start-up que reunia cinco psicólogos, em início de carreira.
Ter a ideia foi, talvez, a parte mais simples de toda a história. À medida que essa ideia ganhava forma, desafios como a falta de financiamento, de conhecimentos ou experiência necessários em matéria de gestão de projectos surgiam. Embora a startup tivesse um conceito convincente, não escapava a um problema comum a muitos empreendedores: a dificuldade em prever quando se tornaria ou não rentável. A equipa original, até então entusiasmada com o módulo de empreendedorismo da formação, acabaria por se dissipar.
Alguns meses mais tarde, descobri uma incubadora de start-ups em Lisboa, um fio de esperança que me levaria a formar uma nova equipa com talentos diversos: Marta, uma gestora de projetos; Edgar, um programador experiente; e Luís, um criativo do marketing. O desafio consistia em dar vida à visão adormecida da Tangoo; mas, infelizmente, à medida que a necessidade de capital financeiro se tornava mais urgente para avançar, a motivação do grupo ia enfraquecendo. Com o tempo, outras responsabilidades da vida, insistentes e implacáveis, foram afastando cada membro da equipa, um a um.
Persisti na criação da Tangoo, mesmo equilibrando-a com outros compromissos profissionais enquanto psicólogo. Após quase dois anos em tentativa e erro, decidi avançar com o que tinha, adoptando a estratégia de procurar as peças em falta ao longo do caminho. Apesar do esforço, a ideia projetada em meados de 2019 nunca chegaria a ver a luz do dia.
Não tardou muito até ser eu a enfrentar uma escolha difícil: continuar com um projeto que se recusava a avançar ou dar luz verde a novas oportunidades profissionais que me oferecessem mais segurança e certezas.
Optei pela última opção e, embora a startup nunca tenha alcançado o sucesso esperado, aprendi algumas lições que aqui partilho:
(1) Uma ideia brilhante, não importa quão promissora ou inovadora, será apenas um rascunho até que seja colocada em prática.
(2) Ter motivação é um combustível essencial para arrancar qualquer projecto; mas será a persistência que vai ditar o verdadeiro sucesso e crescimento ao longo do caminho.
(3) O empreendedorismo é um processo que envolve sinergia e cooperação entre diferentes profissionais e talentos; ninguém atinge o sucesso de forma isolada.
(4) Empreender é abraçar o risco e a incerteza, compreendendo que o fracasso é um degrau importante na escada da aprendizagem.
(5) Ser humano implica em falhar de vez em quando, mas a maior falha está na incapacidade de extrair lições valiosas dos erros cometidos.
No rescaldo do desaparecimento prematuro da Tangoo, vem-me à memória uma simples frase que uma colega me disse e que haveria de me ajudar repetidamente em contexto profissional: “o óptimo é inimigo do bom”.
A mensagem desta história sem final feliz é o testemunho de que, mesmo no meio do fracasso, somos capazes de encontrar uma fonte inesgotável de crescimento. Como a citação nos lembra, há gente que nem tenta.