Psicologia 2021: Necessidades vs. Oportunidades

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Artigo por Edite Queiroz

Os problemas de Saúde Psicológica constituem, cada vez mais, um dos principais desafios de Saúde Pública. Seria de esperar que, por isso, a Psicologia não se debatesse com problemas de empregabilidade, mas sabemos que assim não é. Os desafios enfrentados pelos diplomados no momento da transição para o mercado de trabalho prendem-se não só com as questões contextuais ligadas à empregabilidade e à imagem da Psicologia, mas também com a formulação de objectivos pouco claros face à diversidade de contextos de intervenção possíveis.

“[…] onde há pessoas, pode haver Psicólogos. E quando olhamos de perto para as necessidades do mercado, é fácil constatável que existem muitos contextos onde os Psicólogos são necessários, mas não estão representados.”

A visão tradicional da prática dos Psicólogos move-se ainda em torno das três grandes áreas de intervenção – que correspondem às três Especialidades Gerais no Sistema de Especialidades da OPP: A Clínica e Saúde, a Educação e o Trabalho e Organizações. A estas, estão ligados contextos de intervenção específicos que correspondem ainda, no imaginário colectivo (não apenas da sociedade em geral, mas mesmo de muitos Psicólogos e estudantes), aos locais onde nos habituámos a ver Psicólogos a trabalhar: Clínicas, Hospitais. Escolas e IPSSs, Empresas. Mas na verdade, onde há pessoas, pode haver Psicólogos. E quando olhamos de perto para as necessidades do mercado, é fácil constatável que existem muitos contextos onde os Psicólogos são necessários, mas não estão representados. Assistimos hoje a uma enorme diversificação das temáticas, áreas e contextos de intervenção da Psicologia, bem como dos modelos de intervenção psicológica e das práticas e serviços prestados. Mais do que nunca, a Psicologia tem vindo a conquistar terreno nos chamados contextos “fronteiriços”.

Numa era de grandes transformações sociais e tecnológicas, acrescidos dos desafios trazidos pela pandemia COVID-19, a procura de oportunidades profissionais, devendo partir de características pessoais, motivações e interesses, implica necessariamente manter a disponibilidade para sermos surpreendidos pelo que se passa à nossa volta. É fundamental possuir um conhecimento profundo, não apenas do funcionamento do mercado de trabalho, mas de nós mesmos e das potencialidades da ciência psicológica para as diferentes áreas e contextos de intervenção – não apenas os tradicionais, mas sobretudo os emergentes, i.e., aquelas em que os Psicólogos não estão representados, mas cuja necessidade de intervenção é premente.

A ampla aplicabilidade da Psicologia é uma enorme vantagem. A perspectiva de tomar uma decisão a partir de um conjunto tão grande de escolhas é uma tarefa assustadora para muitos estudantes de Psicologia, ao contrário dos seus pares de outras áreas, que sabem exactamente o tipo de tarefas que irão desempenhar (médicos, enfermeiros, arquitectos, etc.). E apesar da grande maioria ambicionar vir trabalhar na área, muitos dos diplomados entram no mercado de trabalho noutras áreas e apenas uma percentagem desempenhará, no futuro, actividades em algum contexto de intervenção dos Psicólogos. Lembrem-se de que o mercado de trabalho está em permanente expansão e mudança. Procurar uma direcção e encontrar um foco pode, por isso, ser determinante para a procura de uma primeira oportunidade profissional. Por isso, é preciso olhar para a Psicologia de dentro para fora: o que tem a ciência psicológica para oferecer face aos novos desafios societais? Cada um de nós, Psicólogos, tem também o dever de fazer esta reflexão e assim contribuir para que a Psicologia possa crescer, dar respostas e contribuir para um mundo melhor.