Artigo por Edite Queiroz
O ano de 2020, marcado pela emergência da situação pandémica, foi especialmente desafiante para os Psicólogos que, desde o primeiro momento se mobilizaram das mais diversas formas para apoiar a população na gestão da crise e suas consequências. De forma clara, a ciência psicológica detém muitas das respostas para questões e desafios trazidos pela COVID-19 – por exemplo, a necessidade evidente de aumento da literacia em Saúde Psicológica, a complexa gestão emocional da situação (a nível individual, familiar e comunitário), a adaptação dos locais de trabalho, a acomodação das famílias a novas rotinas de teletrabalho e ensino à distância, o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, as perdas e lutos, a fadiga da pandemia ou a aceitação da incerteza. Paralelamente, a Psicologia evidenciou o seu papel na arena política, na comunicação, no planeamento estratégico, desenvolvimento, implementação e avaliação de políticas públicas, no combate à estigmatização e na promoção do contacto social entre grupos como forma de promover a solidariedade e a empatia, dissolver estereótipos negativos, proporcionar apoio e aumentar a percepção de auto-eficácia dos indivíduos e das comunidades.
“Não há dúvidas que a Psicologia pode estar – e deveria estar – em todo o lado. As áreas emergentes da Psicologia em 2021 juntam-se assim a muitas outras, adensando o corpo de estudo e intervenção da ciência psicológica, criando cenários profissionais, suscitando a curiosidade dos futuros Psicólogos e abrindo perspectivas profissionais sempre novas, desafiantes e em permanente expansão.”
Em 2021, os Psicólogos continuarão a ser os profissionais mais bem posicionados para mitigar o impacto da pandemia paralela e generalizada de saúde psicológica que aos poucos se instala, potenciada pela COVID-19 e seus efeitos económicos, sociais e políticos. A investigação psicológica sobre as determinantes e impactos da pobreza aponta-a como um dos principais motores das desigualdades que tornam os indivíduos vulneráveis ao desenvolvimento de problemas de saúde psicológica e às demais consequências da crise. O agravamento dos níveis de pobreza e assimetrias sociais pré-existentes veio agudizar as fragilidades dos sistemas de saúde e de apoios sociais, aspectos que os Psicólogos têm vindo a diagnosticar, criando recomendações e alertando para a necessidade de elaboração de estratégias para intervir junto de populações vulneráveis e especialmente expostas (a dificuldades financeiras, de habitação, de emprego, de acesso à saúde).
Os Psicólogos continuarão a ter um papel basilar no combate às desigualdades sistémicas (por exemplo, o racismo) que levam a que o vírus desproporcionalmente afecte determinados grupos, nomeadamente na prevenção do agravamento dos problemas de saúde psicológica, expectáveis neste cenário. Continuarão a ter um papel preponderante no combate pelos direitos das minorias, colocando a ciência psicológica ao serviço da diminuição do preconceito, do estigma e dos estereótipos sociais que afectam determinados grupos através dos inputs da investigação psicológica e da sua aplicação à formulação de leis e políticas. Nesta, como noutras matérias, assumirão uma voz activa do ponto de vista político, melhorando a comunicação entre decisores e a população, promovendo o diálogo e contribuindo para a diminuição da desinformação e da polarização social.
Foram, desde o primeiro momento, determinantes na vertiginosa transição para o ensino à distância, salientando os seus aspectos positivos (como a auto-gestão ou a aprendizagem socio-emocional) e minimizando as perdas, apoiando alunos e professores na adaptação a novas ferramentas e contextos de ensino. Depressa se adaptaram à modalidade de prestação de serviços de apoio psicológico à distância, desenvolvendo e melhorando guidelines para esse efeito e contribuindo ainda para o desenvolvimento e proliferação de aplicações tecnológicas na área da saúde psicológica, uma tendência que a pandemia veio acelerar. Os indicadores da ciência psicológica evidenciam que o recurso a estas aplicações potencia, em lugar de substituir, a disponibilidade para procurar ajuda especializada. Continuarão também a acompanhar, de forma próxima, as vivências digitais e o crescente impacto das redes sociais, fazendo uso delas para expandir o alcance da sua influência, partilhando recomendações e resultados da investigação mais recente, chegando desta forma a um público cada vez mais diverso e assim promovendo a imagem da Psicologia na sociedade e elevando os níveis de literacia em Saúde Psicologia.
A pandemia colocou a necessidade de investigação e intervenção psicológica à boca de cena, demonstrando sua importância na gestão da actual crise e na preparação para crises futuras. Enquanto o mundo se debate com a incerteza, os dados sugerem que as competências dos Psicólogos no apoio às populações são cruciais na gestão dessa instabilidade. Em suma, as necessidades identificadas pelos Psicólogos em 2020 conduziram à reflexão, sempre inacabada, sobre novas áreas e contextos de intervenção. Não há dúvidas que a Psicologia pode estar – e deveria estar – em todo o lado. As áreas emergentes da Psicologia em 2021 juntam-se assim a muitas outras, adensando o corpo de estudo e intervenção da ciência psicológica, criando cenários profissionais, suscitando a curiosidade dos futuros Psicólogos e abrindo perspectivas profissionais sempre novas, desafiantes e em permanente expansão.
Estamos prontos para o futuro.