Artigo por Edite Queiroz
O tema da saúde psicológica ganhou uma visibilidade extraordinária nos últimos anos, nem sempre pelos melhores motivos. O século XXI, marcado pelo forte impacto de factores sociais e económicos na saúde pública, é palco de mudanças globais e complexas (a massificação da utilização da tecnologia e da Internet, o aumento das migrações, o envelhecimento da população, o aumento das desigualdades sociais e da pobreza). Afectando negativamente o bem-estar individual e colectivo, estes desafios traduzem-se em mais e novos problemas de saúde psicológica cujo impacto deixou de poder ser ignorado. A ansiedade, stresse, depressão e outros problemas afectam cada vez mais pessoas, comprometendo a vida familiar, social e profissional e elevando a sua dependência dos sistemas de saúde. O seu aumento global é responsável por custos económicos equivalentes a mais de 4,2% do PIB dos países. A depressão, que atinge cerca de 300 milhões de pessoas no mundo, é já considerada a principal causa de incapacidade no mundo. Na UE, 4 em cada 100 pessoas são diagnosticadas com depressão e 5 em cada 100 com ansiedade. Com o agravamento deste cenário no contexto da pandemia COVID-19, a saúde psicológica foi projectada como uma das mais importantes questões na agenda política internacional.
É uma contradição que o investimento público em serviços de Psicologia continue a ser encarado como uma despesa, quando a investigação em ciência psicológica evidencia, de forma clara, os resultados positivos da nossa acção e os estudos de custo-efectividade dão conta dos seus benefícios.
A necessidade vital da Psicologia no actual momento histórico marca um momento de viragem para a afirmação dos psicólogos e psicólogas na sociedade. De profissão elitizada e subsidiária, a Psicologia é hoje essencial à promoção da saúde integral. A sua acção, inicialmente interventiva, é agora multinivelada e especialmente pertinente na dimensão preventiva e de promoção de competências. Mais do que nunca, somos essenciais em todos os contextos, desde os conhecidos aos menos óbvios. Somos fundamentais no desporto, na justiça, na adopção de estilos de vida saudáveis, no envelhecimento activo ou na formulação de políticas para as grandes causas do nosso tempo: a igualdade, a sustentabilidade, a inclusão, a diminuição da pobreza ou a promoção dos direitos humanos.
Contudo, a urgência dos nossos contributos continua a não reflectir a resolução dos problemas de empregabilidade ou a nossa presença efectiva em serviços essenciais – mesmo nos que correspondem aos contextos de actuação tradicionais. Continuamos a ser insuficientes nas escolas (onde há cerca de 1200 psicólogos/as, correspondendo a um rácio longe do de 1 para 500 alunos recomendado), no SNS (onde existe um/a psicólogo/a por cada 40000 utentes, sendo o rácio recomendado de 1 para 5000) ou nas organizações (onde pouco mais de 10% das empresas têm procedimentos para lidar com riscos psicossociais). É uma contradição que o investimento público em serviços de Psicologia continue a ser encarado como uma despesa, quando a investigação em ciência psicológica evidencia, de forma clara, os resultados positivos da nossa acção e os estudos de custo-efectividade dão conta dos seus benefícios.
Somos especialistas das emoções, percepções e comportamentos – a nossa causa são as pessoas. O papel de cada um/a passa também por promover a literacia em saúde psicológica, advogar o reconhecimento do seu valor e importância e comunicar a multiplicidade de actividades que podemos desenvolver em tantos contextos em prol da saúde, do bem-estar e da qualidade de vida. Para isso, é essencial ter uma visão holística do trabalho que fazemos, estar atentos/as a transformações e necessidades emergentes e actualizados/as quanto aos desenvolvimentos da ciência e orientações para a prática profissional. Esta é uma tarefa de todos/as. Convidamos-te, por isso, a consultar regularmente os documentos publicados no Repositório OPP e a partilhá-los com colegas. A divulgar os conteúdos do Portal Eu Sinto.Me a colegas, amigos e familiares. Por mais e melhor saúde psicológica para todos/as, sê um/a psico-activista!