Artigo por Marta Alves
“Trago a fisga no bolso de trás
E na pasta o caderno dos deveres
Mestre-escola, eu sei lá se sou capaz
De escolher o melhor dos dois saberes
O meu pai diz que o Sol é que nos faz
Minha mãe manda-me ler a lição
Mestre-escola, eu sei lá se sou capaz
Faz-me falta ouvir outra opinião
(…)” A Fisga, Rio Grande
“Devemos escolher as formações a realizar, de acordo com as necessidades que identificamos quando analisamos o nosso perfil de competências e o perfil de competências exigido para o cargo que desempenhamos ou para o cargo que pretendemos desempenhar“
Uma das questões que surge com frequência ao longo da carreira profissional é “que formação devo fazer?”. Por vezes é uma questão colocada na ânsia de encontrar a formação que irá “garantir o emprego”, outras vezes há uma indecisão entre duas ou três áreas de formação que despertam interesse e outras vezes sabemos em que área queremos fazer formação mas estamos indecisos sobre em que entidade a fazer.
Devemos escolher as formações a realizar, de acordo com as necessidades que identificamos quando analisamos o nosso perfil de competências e o perfil de competências exigido para o cargo que desempenhamos ou para o cargo que pretendemos desempenhar. No entanto, não devemos ficar apenas por esta auto-análise pois esta será influenciada pelos nossos valores e pela realidade que conhecemos, quer em termos das pessoas, quer em termos do contexto que conhecemos. Assim, poderá ser eficaz encontrar uma lista de competências já nomeadas, que nos ajude a eventualmente considerar necessidades de formação que à partida não consideraríamos e que nos poderão beneficiar.
Quando identificamos uma necessidade de formação, podemos encontrar várias formas de a colmatar. Podemos encontrar várias formações que variam no custo, na carga horária, na modalidade de formação, no corpo docente, nos conteúdos, entre outros factores. Não raras vezes, o desenvolvimento de competências pode passar por outras estratégias que não a formação formal e certificada ou podem acontecer no complemento desta.
Uma sugestão é analisar as suas necessidades de formação ao nível das competências técnicas e ao nível das competências transversais. Ao nível das competências técnicas, poderá ter como referência os Documentos Orientadores das Especialidades pois neles são nomeadas as competências do psicólogo, de acordo com as áreas de especialidade. Os Perfis do Psicólogo poderão também ajudar nessa reflexão.
Outro prisma de análise poderá ser através do Regulamento sobre o Diploma Europeu em Psicologia, que estabelece as seguintes competências enquanto competências primárias dos psicólogos (pp.42-43):
- Especificação de objectivos – “Interacção com o cliente com o fim de definir os objectivos da intervenção ou serviço que será prestado”
- Avaliação “Descrever características relevantes de indivíduos, grupos, organizações, e situações, através de métodos apropriados”
- Desenvolvimento “Desenvolver interacções, serviços ou produtos com base nas teorias e métodos psicológicos para serem utilizados pelos clientes ou psicólogos”
- Intervenção “Identificar, preparar e concretizar intervenções que são apropriadas para atingir os objectivos definidos, utilizando os resultados da avaliação e das actividades de desenvolvimento”
- Avaliação final “Estabelecer a adequação de intervenções em termos de adesão ao plano de intervenção e ao cumprimento dos objectivos estabelecidos”
- Comunicação “Fornecer informação aos clientes de um modo a que se adeqúe e corresponda às expectativas e necessidades dos clientes”
Relativamente às competências transversais, o regulamento referido, refere as seguintes: estratégia profissional, desenvolvimento profissional contínuo, relações profissionais, investigação e desenvolvimento, marketing e vendas, gestão de contas, gestão da prática, gestão da qualidade e auto-reflexão.
Podemos também considerar factores relacionados com as competências de empregabilidade, isto é, que favoreçam a obtenção e manutenção de emprego. Essas competências podem passar pelas seguintes (Perkins Collaborative Resource Network, 2017)*: competências académicas aplicadas (de leitura, escrita, matemáticas, científicas), de pensamento crítico (tomada de decisão, resolução de problemas e planeamento e negociação), competências interpessoais (trabalho em equipa, resposta às necessidades do cliente, liderança, negociação e resolução de conflitos e respeito pelas diferenças individuais), qualidades pessoais (responsabilidade e autodisciplina, adaptação, flexibilidade, ser capaz de trabalhar de forma independente, iniciativa, capacidade de aprendizagem, integridade, atitude positiva e profissionalismo). Também competências como gestão de tempo, gestão de recursos materiais e pessoais, competências de organização e analíticas, competências de comunicação não-verbal, de escuta activa e de empatia, pensamento em equipa e competências tecnológicas são competências a considerar quando já de encontra num local de trabalho (Perkins Collaborative Resource Network, 2017).
Assim, das competências sugeridas, poderá fazer uma análise, reflectindo: através de que acções formativas podemos minimizar os meus pontos fracos e fazer “brilhar” ainda mais os meus pontos fortes?
Cada psicólogo é único e, portanto, construtor das várias ferramentas e competências que lhe permitirão actualizar-se e manter elevados níveis de competência e de realização pessoal e profissional.
* https://cte.ed.gov/initiatives/employability-skills-framework