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O Perigoso Caso da Pseudociência

Artigo por Edite Queiroz

Ao longo do tempo, a Psicologia tem feito um longo caminho de afirmação na sociedade, frequentemente obstaculizado pelo estigma associado às questões da Saúde Psicológica e pela frequente associação da Ciência Psicológica a práticas não-científicas – a que chamamos de pseudociência. Esta pode ser definida como um conjunto de crenças e práticas supostamente resultantes do método científico, mas que, na verdade, adoptam métodos de investigação problemáticos ou distorcem os resultados e evidências disponíveis.

As práticas pseudo-terapêuticas, frequentemente auto-proclamadas de terapias alternativas, apropriam-se do conceito de terapêutica e/ou da ideia de relação terapêutica, disseminam informações erradas sobre Saúde Psicológica, perpetuam mitos e podem mesmo constituir sérios riscos para quem a elas recorre.  Oferecendo o alívio de sintomas ou a melhoria da Saúde Psicológica, estas práticas são potencialmente manipulativas e não avaliam os seus riscos de forma adequada, já que utilizam procedimentos e técnicas baseados em critérios cuja eficácia, efectividade, qualidade e segurança não foram validadas ou carecem de suficiente evidência. Mesmo intervenções aparentemente inócuas podem causar danos, já que impelem ao dispêndio de tempo e dinheiro em serviços que não se traduzem em ganhos ou melhorias, em lugar da procura de cuidados psicológicos realmente eficazes. Além disso, a inexistência de regulação legal para a sua maioria inviabiliza a responsabilização em casos de má prática, o que representa uma ameaça adicional.

“…os/as Psicólogos/as têm o compromisso ético de defender a identidade da Psicologia, assegurando que a intervenção psicológica não é alvo de confusão com qualquer outro tipo de intervenção.”

Ora, a Psicologia é uma ciência. Corresponde a um corpo sistematizado de conhecimentos objectivos e baseados na realidade empírica, obtidos através das leis e do rigor que regem o método científico, resultando em intervenções que aplicam procedimentos e técnicas baseadas na investigação e evidência científicas e produzindo resultados que impactam a Saúde Psicológica e o bem-estar de forma positiva. Por tal, nos seus diferentes contextos de intervenção, os/as Psicólogos/as têm o compromisso ético de defender a identidade da Psicologia, assegurando que a intervenção psicológica não é alvo de confusão com qualquer outro tipo de intervenção. Na prática, isto pode significa a escusa de prestar serviços de Psicologia em locais em que a profissão esteja associada a tais intervenções – por exemplo, cabeleireiros, institutos de beleza, salões de massagens, etc. ou outros que integrem consultas de parapsicologia, cartomancia (tarot e outros), búzios, leitura de mãos, Reiki ou outras “terapias de bem-estar”.

Esta observação é particularmente relevante para os jovens profissionais, que em alguns casos (nomeadamente, no âmbito do Ano Profissional Júnior) podem sentir-se impelidos a trabalhar em instituições que integram práticas enleadas na rede da pseudociência, ou utilizar intervenções que não cumprem (ou não cumprem ainda, porque em fase de desenvolvimento/investigação) critérios científicos – por exemplo, a Numerologia, Constelações Familiares, Brainspotting, Aconselhamento Filosófico, Terapia Diamante, etc.  A este propósito, sugere-se a consulta da listagem disponibilizada pela American Psychological Association (APA), que identifica uma série de intervenções psicológicas suportadas pela evidência empírica. Em caso de dúvida, o Espaço Psicólogo Júnior pode ajudar, esclarecendo sobre os contextos adequados para a prática da Psicologia e fornecendo orientação sobre as condições desejáveis de realização do Ano Profissional Júnior.

Paralelamente, cada Psicólogo/a deve ainda assumir um compromisso com a promoção da Literacia em Saúde Psicológica, já que dela depende, em larga medida, o conhecimento público sobre como obter e manter a Saúde Psicológica, a diminuição do estigma e a facilitação da procura de cuidados adequados, eficazes e cientificamente sustentados. A defesa da Ciência Psicológica é uma responsabilidade de todos/as os Psicólogos/as, já que, com ela, estamos simultaneamente a defender o interesse público e a salvaguardar a Saúde Psicológica e o bem-estar das pessoas.