Artigo por Ana Leonor Baptista
O desenvolvimento pessoal e o desenvolvimento profissional caminham lado a lado. Quando se abordam questões relacionadas com a gestão de carreira e com as motivações e objectivos pessoais e profissionais, é frequente a menção à famosa pirâmide de Maslow. Esta sugere que todos temos uma hierarquia de necessidades em que surgem na base as necessidades fisiológicas e de segurança, que devem estar satisfeitas para que possamos subir nesta pirâmide e procurar sentimento de pertença, auto-estima e, por fim, realização pessoal, que inclui necessariamente a realização profissional. Esta pirâmide foi conceptualizada há mais de meio século atrás, quando os contextos laborais e as relações interpessoais assumiam contornos muito distintos. Hoje em dia e na sociedade em que vivemos, será que esta pirâmide de necessidades se manteria inalterada? O que motiva as pessoas? Que degraus devem ser percorridos para alcançar a auto-realização?
“[…] aproveitemos este período para olhar para dentro, para ficarmos mais lúcidos, criativos, audazes e corajosos, mobilizando os nossos recursos e competências para o desenvolvimento pessoal, numa matriz de procura por “mais” que esteja sintonizada e consonante com a essência de cada um.”
Ao pensar em auto-realização, possivelmente imaginamos um equilíbrio harmonioso entre vários aspectos da nossa vida como o trabalho, as relações e o bem-estar físico e psicológico. Quando nos debruçamos sobre a carreira em particular, imaginamo-nos a desempenhar uma função profissional que nos providencie autonomia, que nos permita fazer uso das nossas competências e que promova a nossa aprendizagem, impulsionando o nosso desenvolvimento. Esta visão da carreira pode embaciar-se quando aferimos alguma dissonância noutros aspectos de vida igualmente relevantes para nós, o que pode ocorrer por motivos intra ou interpessoais ou ainda contextuais, que podem estar, ou não, sob o nosso controlo. Tal releva a importância do equilíbrio entre os vários elementos da nossa vida pessoal e profissional, da relação com os outros e da relação connosco mesmos, e dos vários contextos e esferas de vida em que cada um está inserido.
Aproximamo-nos de um período de férias de verão, em que muitos de nós fazem uma pausa na sua rotina habitual e este tempo de descanso pode ser convidativo a reflectir sobre a nossa própria hierarquia de necessidades. O que mais valoriza para a sua auto-realização? Qual a sua essência, os seus valores core, e como é que estes estão alinhados com percurso que tem traçado para si? Que elementos deverão estar assegurados para a prossecução dos seus objectivos? Serão estes aspectos fixos e imutáveis ou antes dinâmicos e variáveis? Quais os passos concretos que deve dar para que se permita avançar na sua construção de percurso de vida e de carreira? O período de férias pode constituir o momento ideal para reflectir e avaliar o nosso caminho para a auto-realização e para fazer um balanço retrospectivo e prospectivo dos nossos objectivos e das nossas paixões.
Gostaria ainda de notar que Maslow foi um psicólogo americano, falecido na década de 80, cujo contributo para a Psicologia ultrapassou largamente esta aclamada pirâmide. Destaco a sua abordagem humanista que coloca o enfoque na pessoa, que deixa de ser paciente (passivo) para passar a ser cliente, com papel activo na sua própria transformação. Ilustrando (e generalizando), pensemos na Psicologia como a fotografia analógica: o psicólogo age como revelador, ou seja, transforma a imagem latente numa imagem visível, providenciando à pessoa estratégias e ferramentas para que esta active os seus recursos na construção da sua evolução. Façamos o mesmo exercício connosco mesmos, em prol do nosso crescimento enquanto pessoas e profissionais: aproveitemos este período para olhar para dentro, para ficarmos mais lúcidos, criativos, audazes e corajosos, mobilizando os nossos recursos e competências para o desenvolvimento pessoal, numa matriz de procura por “mais” que esteja sintonizada e consonante com a essência de cada um.