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Nutrir a Relação, Nutrir a Carreira

Artigo por Ana Leonor Baptista

Como pessoas, profissionais, estudantes, filhos, pais, companheiros ou amigos, utilizamos competências interpessoais no dia-a-dia para comunicarmos e para nos relacionarmos com quem nos rodeia. Certamente ajustamos o nosso estilo interpessoal ao contexto em que nos encontramos mas, de forma transversal, a aquisição e domínio deste tipo de competências é essencial para a natureza humana.

Como sabemos, o bebé humano existe e sobrevive na dependência do outro. O crescimento e o desenvolvimento são, à partida, acompanhados por uma autonomização progressiva no sentido da independência. Com esta, vem também o pensamento crítico, a ética, a moralidade, a capacidade de tomada de decisão e as demais funções cognitivas diferenciadas. Subjacente está ainda o desenvolvimento psicológico, emocional e social, que não só nos faculta uma noção de self como também nos permite posicionarmo-nos na relação com os outros, nos nossos múltiplos contextos e no panorama colectivo e social mais global. Enquanto adultos, muitos de nós já não dependem do outro para sobreviver, mas seguramente todos precisamos do outro para viver.

Um passo importante e determinante na qualidade das relações que estabelecemos com os outros são as competências interpessoais, como por exemplo a empatia, a capacidade reflexiva, a escuta ativa, a clareza ao comunicar, a capacidade para resolver problemas, o positivismo, a capacidade para negociar e fazer cedências, a assertividade, o reconhecimento e a validação do outro. Todas elas são essenciais para relações qualitativamente melhores e, por conseguinte, para alcançar um bom ajustamento às exigências pessoais e profissionais.

Estamos colectivamente a passar por um período estranho, diferente, e estamos a adaptar-nos a uma nova normalidade. Independentemente do impacto pessoal da pandemia na vida de cada indivíduo, seguramente todos sentimos mudanças na nossa vida pessoal, profissional e social. Algumas pessoas não vêm os familiares ou amigos há muitos meses, outras pessoas passam mais tempo com a sua família do que seria habitual. As restrições ao convívio social impõem uma restruturação da forma como as pessoas vivem o seu tempo de lazer e redefinem a socialização. Houve quem se tivesse de adaptar a um regime de teletrabalho e quem se mantivesse no terreno, na linha da frente, existindo ainda um número de pessoas que perderam os seus empregos. Neste enquadramento, mais do que nunca, importa que cada um seja capaz de nutrir a sua qualidade interpessoal e as relações que estabelece nos vários contextos de vida, procurando ativamente o contacto com os outros e monitorizando as suas competências nesse mesmo contacto.

“Trabalhemos, então, neste sustento [a relação com o outro] tão importante, sedimentando a consciencialização basilar de que o ser humano não existe sozinho, não conquista sozinho (não luta sozinho). “

Ao pensarmos em gestão pessoal de carreira deveremos ter presente que as soft skills supramencionadas são essenciais para a progressão e desenvolvimento profissional já que, quer on-line quer presencialmente, é necessário ter capacidade para ouvir os outros, cooperar com eles, dirigi-los ou ajudá-los. Estas competências não só nos dotam de maior capacidade para trabalhar em equipa, liderar, intervir ou avaliar, como também nos providenciam maior segurança na forma como interagimos com os outros, como recebemos e partilhamos informação com eles e como gerimos situações complexas ou stressorasmovimentamo-nos continuamente entre contextos e pessoas, o que denuncia a relevância da aquisição e domínio das competências interpessoais. Efectivamente, quando pensamos nas nossas referências profissionais, geralmente concebemos não só o desempenho profissional e competência técnica-científica, mas inevitavelmente evocamos também as qualidades interpessoais como o estilo de liderança, de comunicação, a receptividade aos outros ou a assertividade. Trabalhemos, então, neste sustento tão importante, sedimentando a consciencialização basilar de que o ser humano não existe sozinho, não conquista sozinho (não luta sozinho).