Artigo por Joana Almeida Monteiro
“No man is an island, entire of itself, every man is a piece of the continent, a part of the main” – John Donne
Nenhum Psicólogo é uma ilha, somos parte de um todo… ou pelo menos assim deveria ser. Quem consulta um Psicólogo (seja em que contexto for), fica com uma ideia do que é a Psicologia. Essa ideia pode ser mais ou menos ampla, mais ou menos correcta; mas a realidade é que se faz assim um juízo da profissão. Deste modo, cada Psicólogo ajuda a criar a imagem do todo, de todos os profissionais, de toda a profissão – que grande responsabilidade e que grande privilégio! Isto deverá, portanto, levar a que cada um de nós chame a si este contributo. O nosso foco será, claro, no nosso cliente, na pessoa, mas não deveremos esquecer a importância da “imagem” que deixamos da Psicologia no outro.
Este é um dos motivos pelos quais tanto se fala de marketing/branding profissional. Em Psicologia nem sempre este nos é um tema óbvio ou confortável – temos reservas em pensar em nós e no nosso trabalho como “comercializável”, “vendável”, “publicitável”. Mas é de facto necessário..! E nem todo o marketing é sob a forma de anúncios ou publicidade – é muito também através dessa tal (boa) impressão que deixamos nos outros, sejam eles clientes, colegas ou até na família e amigos.
Para podermos criar e deixar essa tal imagem de nós e da Psicologia é também importante, por exemplo, a criação de redes profissionais, de nos mantermos em contacto com colegas – que nos inspirem, com quem partilhamos boas práticas e dilemas, com quem fazemos inter- e supervisão, com quem se criam sinergias para trabalho em parceira, para quem encaminhamos clientes.
“É também importante o investimento no desenvolvimento profissional contínuo (DPC), quer como forma de crescimento individual, mas também numa noção de colectivo, de melhoria permanente da Psicologia.“
É também importante o investimento no desenvolvimento profissional contínuo (DPC), quer como forma de crescimento individual, mas também numa noção de colectivo, de melhoria permanente da Psicologia. Esta melhoria permanente deve ir sendo guiada por um balanço das nossas competências – o que necessito de desenvolver? E, diria eu, um desenvolvimento mais focado em levar a outro nível os nossos pontos fortes (pois são estes que nos distinguem e podem, assim, ter melhor contributo para quem apoiamos) do que em “dispersar” no desenvolvimento de mil e uma competências distintas.
Este investimento na criação de redes, no pensarmos no nosso marketing ou de planearmos o desenvolvimento profissional não se faz, por vezes, não devido à falta de interesse dos Psicólogos no assunto, mas porque há outros constrangimentos que se levantam: a distância geográfica que dita que haja menos oportunidades de frequentar acções formativas ou outras iniciativas de DPC, a dificuldade em pensarmos sozinhos sobre nós mesmos, uma vida profissional (e pessoal!) preenchida que não liberta muito tempo para dedicar a tais actividades, e até mesmo condicionamentos de ordem financeira que nos impedem de investir em todas as iniciativas ou materiais que achamos úteis e necessários.
Felizmente, com a evolução do mundo do trabalho e da forma como se prestam serviços, hoje em dia temos cada vez mais iniciativas que vêm ajudar-nos a contornar estes embaraços: a formação e outros formatos de aprendizagem e intervenção “à distância” (seja formação e-learning, webinars ou as consultas/consultorias on-line), a flexibilidade no acesso à hora e no local que nos for mais conveniente, a tendência para a personalização (e assim maior “encaixe” nas nossas necessidades).
Todo este investimento em nós próprios, mas também na Psicologia, não é isento de esforço ou desconforto – aliás, sabemos bem como custa “sair da zona de conforto” ou reflectir sobre questões que temos mais cristalizadas – mas a verdade é que vale sempre a pena! Pensemo-nos mais como parte do continente e saiamos da ilha!