Artigo por Ana Leonor Baptista
Estamos em Dezembro, um mês de festividades que nos convida a fazer uma viagem em retrospectiva pelo ano que passou bem como a traçar novas metas para o ano que se avizinha. E neste balanço contemplativo, por vezes (se estivermos dispostos a isso), somos capazes de reparar nas similaridades que existem entre a forma como pensamos o nosso ano, a nossa vida e a forma como pensamos a carreira e o nosso desenvolvimento profissional.
A recordação reconstruída dos nossos feitos, dos nossos sucessos nos campos pessoal e profissional, das nossas conquistas, mas também dos nossos momentos menos felizes, aproxima-nos destes vários acontecimentos – por vezes de forma ligeiramente enaltecida, outras vezes enegrecendo-os – permitindo-nos tirar ilacções sobre o que está para vir. Construímos narrativas pessoais (a história de vida) tão facilmente quanto podemos construir narrativas de carreira – e é de todo pertinente que nos permitamos a dar sentido à nossa carreira, narrando-a. O acto de narrar, em si, pode ser altamente impulsionador de desenvolvimento, de mudança, já que narrar é tornar em acção algo que está arrumado e parado em nós.
“Felizmente, o ser humano não é acabado – estamos em permanente construção e nesta construção reside a certeza do desenvolvimento e da possibilidade.”
E desta forma convido o colega, independentemente da fase de vida e de carreira em que se encontra, a fazer este balanço…
- O que atingi este ano? Registe as suas conquistas profissionais, objectivos cumpridos, “degraus subidos”.
- O que quero? Prepare-se para estabelecer novas metas, pense em projectos que gostaria de desenvolver, seja SMART na definição dos seus objectivos.
- Como posso melhorar a minha marca? Delinear o nosso percurso é algo interno e intrinsecamente pessoal, no entanto, é igualmente importante que sejamos capazes de demonstrar ao outro, com impacto, este caminho que nos propomos a fazer.
- Qual o cenário futuro? Janeiro é conhecido como o mês das oportunidades em termos de mercado de trabalho, pelo que poderá constituir-se o contexto ideal para dar um salto em direcção a novos desafios. Sem desconsiderar o contexto pandémico desafiante pelo qual atravessamos, um olhar em frente deverá, idealmente, ser sentido de forma positiva, esperançosa e segura, considerando também as várias esferas de vida e o impacto que determinados objectivos pessoais podem ter na tomada de decisão de carreira.
- Qual é o meu sonho? As famosas listas de desejos que acompanham muitas pessoas na passagem das 23h59 do dia 31 de Dezembro para a 00h00 do dia 1 de Janeiro poderão ser úteis também na carreira – pondere elaborar uma lista das entidades que gostaria de integrar, dos profissionais com quem gostaria de colaborar, dos projectos que gostaria de colocar em prática… E vá um pouco mais além: visualize os passos necessários para que os desejos se tornem planos e, quem sabe, o próximo ano poderá ser um ano de novas realizações!
Não poderia terminar este pequeno texto sem fazer a seguinte salvaguarda: 2020 foi um ano extremamente desafiante para todos nós, com impacto avassalador para alguns. Cabe-me reiterar que o mero facto de ter sido capaz de lidar com as adversidades e dificuldades que este ano lhe possa ter colocado é uma conquista fantástica, que pode até ter-lhe revelado aspectos sobre si que ainda não estavam a descoberto. Assim, esta viagem que o convido a fazer, pretende ir para além da enumeração factual de desejos ou conquistas – o objectivo, se me permite, é que esta viagem o leve a construir uma narrativa de carreira que contemple as várias experiências de vida por que passou ao longo destes meses, as competências de que tal o dotou, os conhecimentos que aprofundou, entre outros. Esta narrativa poderá apoiá-lo na delineação do seu caminho.
Felizmente, o ser humano não é acabado – estamos em permanente construção e nesta construção reside a certeza do desenvolvimento e da possibilidade.