Artigo por Rita Santos
Se pensarmos um pouco, todos temos ao nosso redor, pessoas com tendência saudosista, muito ligadas às memórias do passado e que usam frequentemente frases como “Ai, na altura da faculdade era tão feliz”, “Naquele tempo era tudo tão bom, divertido, …”, outras muito focadas no seu futuro, ligadas a questões “Como irá ser?”, “O que vou fazer a seguir?”. E mais recentemente ouvimos bastante a premissa do “ideal ser/estar focados no presente”, seja lá o que isso represente para cada um nós.
Uma vez que não me consigo posicionar por completo num dos polos e sinto que vou oscilando, consoante as fases de vida em que me encontro e muito associado a momentos em que sinto maior tristeza ou por outro lado me sinto mais alegre e positiva, resolvi trazer-vos esta noção temporal, enquanto conceito psicológico, que enquadra esta relação da forma como vivemos o tempo em ligação com as várias fases e desafios de vida.
A Perspectiva Temporal, de acordo com o modelo de Zimbardo e Boyd (2008), define que a forma como o individuo se relaciona com a dimensões temporais repercute-se na forma como pensa, sente e age. Por consequência, terá influência nos processos de tomadas de decisão. Por exemplo, se uma determinada situação despertar uma memória anterior, dependendo se essa memória é positiva ou negativa terá influência na avaliação da situação actualmente vivida.
“Reflectir acerca da forma como encaramos o tempo, dará sentido às experiências vividas e contribuirá para o auto conhecimento. Tomar consciência desta influência poderá auxiliar nos processos de tomada de decisão, visto que quanto maior for a consciência de todas as variáveis implicadas no processo, maior clareza existirá, sendo essencial para a gestão da nossa carreira em Psicologia.”
Os autores propõem 6 categorias ou tipos de abordagem quanto à perspectiva temporal, ou por outras palavras formas diferentes de encarar o tempo:
1 – Passado Positivo: muito ligado a memórias positivas acerca do seu passado;
2 – Passado Negativo: associado a sentimentos de ansiedade, depressão, raiva ou vergonha face ao passado;
3 – Presente Hedonista: focada em viver o presente, sem antecipar consequências das suas acções;
4 – Presente Fatalista: sentem-se sem capacidade para influenciar o seu futuro, sem recursos para mudar a situação actual;
5 – Futuro: antecipação e investimento no planeamento de objectivos a médio e a longo prazo, focadas em atingir o que se propuseram;
6 – Futuro Transcendental: relacionado com as crenças individuais acerca da morte.
Consideram que este é um processo dinâmico e por isso é natural que possa identificar-se com mais do que uma das 6 categorias acima descritas, sendo umas mais influentes que outras, para cada um.
Reflectir acerca da forma como encaramos o tempo, dará sentido às experiências vividas e contribuirá para o auto conhecimento. Tomar consciência desta influência poderá auxiliar nos processos de tomada de decisão, visto que quanto maior for a consciência de todas as variáveis implicadas no processo, maior clareza existirá, sendo essencial para a gestão da nossa carreira em Psicologia.
Deste modo, não posso terminar este artigo sem vos colocar uma questão e lançar um desafio.
Quantos de vós, no exercício das vossas funções já pediu para que o seu cliente/paciente desenhasse a sua linha da vida? Quantos de vós já desenhou e reflectiu sobre a sua linha da vida?
Proponho que possamos então colocar em prática este exercício de reflexão acerca da perspectiva temporal. Numa folha em branco, coloque uma linha horizontal, uma das extremidades representará o seu nascimento, deverá escolher um ponto para representar a sua idade actual. De seguida, irá colocar acontecimentos que tenham sido significativos – pessoal, escolar e/ou profissional, pode ainda avaliá-los enquanto positivos e/ou negativos, ou até ambos. Se lhe fizer sentido, marque também eventos que antecipa viver no futuro.
Após o preenchimento da linha, olhe para a folha e reflicta se os eventos que colocou tiveram ou têm impacto nas suas decisões. E ainda que impacto poderão ter nos acontecimentos que colocou no futuro.
Como disse José Saramago “Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo!”