Não leia este artigo: Não vai aprender nada!

Partilhar

Artigo por Ana Sofia Nobre

Não há dúvida alguma de que todos nós somos diferentes, cada vida tem a sua história. E se isso é uma verdade absoluta nas coisas mais simples do dia-a-dia, na forma como agimos, no que nos motiva, nas causas que apoiamos, no que nos faz largar aquela gargalhada, no que nos desconcerta, também o é, na forma como gerimos as nossas carreiras, nas escolhas que fazemos ou que resolvemos não fazer, na forma como nos posicionamos, como nos relacionamos, na forma, como cada um, no âmbito do exercício dos seus papeis, contribui e cria mudança e desenvolvimento.

Por experiência própria, encontrar esta individualidade colectiva não é uma tarefa fácil, todos os dias a procuro e confesso que nem sempre a encontro.

Não se trata de qualquer tipo de posicionamento mais elitista, não se trata por isso de sermos “os melhores”, trata-se sim da descoberta de um caminho pessoal, um caminho reflexivo que nos leva a amadurecer o nosso auto-conhecimento e que nos vai permitindo, todos os dias, com maior clareza, responder a questões como “Quem sou?” e “Quem não quero ser?”, “Onde estou?”, “Para onde quero ir?”, “Qual o meu propósito?”.

Se todas estas questões surgissem no jogo “Trivial”, garanto que seriam questões para “queijinho”, porque na verdade, as respostas não vêm nos melhores manuais, não nos podem ser dadas por terceiros, por mais conforto que essa possibilidade poderia trazer a qualquer um de nós em determinadas fases de vida. É um caminho de descoberta, de atribuição de significados e de construção da nossa narrativa, um caminho que nunca acaba, considerando que todos os dias nos transformamos.

“É um caminho de descoberta, de atribuição de significados e de construção da nossa narrativa, um caminho que nunca acaba, considerando que todos os dias nos transformamos.

Recentemente, tive a oportunidade de ler, de forma seguida, cerca de 30 cartas de motivação, posso partilhar que em apenas um terço das mesmas, consegui sentir a/as pessoa/as que as escreveram, as suas motivações, os seus “porquês”, no fundo a sua proposta de valor, a sua singularidade. Os restantes dois terços eram textos exactamente iguais, mas tal como vos escrevi no início, nós não somos iguais.

Por detrás destes modelos iguais, tenho toda a certeza que não está uma pessoa com menor vontade de mostrar a sua motivação, aliás, por detrás destes modelos iguais até poderia estar a pessoa cujo perfil mais se ajustasse aquela oportunidade, mas isso nunca o saberei.

E nunca o saberei, porque muitos dos Cvs, cartas de motivação, até algumas posturas em entrevistas surgem como fruto de uma linha de montagem, que derivam dum trabalho árduo, mas por vezes inglório, de procura da melhor resposta para a questão x ou y que poderá ser colocada na entrevista, o melhor modelo de carta de motivação, o melhor modelo de curriculum vitae, ficando de parte, aquilo que é o mais importante – a essência da pessoa, a sua singularidade.

Porque queremos entregar a melhor versão, porque nunca parámos para pensar verdadeiramente em nós e no que nos distingue ou nos move, porque temos medo de não sermos suficientemente bons para algo que queremos muito que aconteça, podem ser tantas as razões.

Por isso, coloco como título desta, chamemos-lhe partilha, “Não leia este artigo, não vai aprender nada!”.

As respostas às questões: quem somos; o que nos move; qual o nosso propósito; o que nos motiva; qual a nossa proposta de valor; são questões âncora na nossa gestão de carreira e na forma como nos posicionamos no mercado de trabalho.

Claro que este amadurecimento e esta descoberta pode ser potenciada com apoio especializado, no entanto, o cerne de todas estas questões reside dentro de cada um de nós. Por isso, embora ouse escrever sobre o tema, não venho com respostas. Atrevo-me, apenas, a lançar o mote para a importância de todos os dias, fazermos este caminho de amadurecimento do nosso auto-conhecimento, e de como, em simples passos, na abordagem ao mercado de trabalho, como por exemplo, quando escrevemos uma carta de motivação, ele pode ser tão determinante, assim como assumir um papel orientador na construção das nossas carreiras.