Não Há Soluções, Há Caminhos

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Artigo por Ana Leonor Baptista

 

O blog PsiCarreiras aborda temas de desenvolvimento pessoal e profissional e gestão de carreira, com todas as suas nuances e diferentes áreas que estas temáticas podem tocar. Têm sido abordados variadíssimos temas, desde competências suaves à criação de uma marca pessoal, desde aprender com a carreira dos outros a desenvolver o auto-conhecimento como pedra basilar da carreira… E não só. A 19 de Março escrevemos pela primeira vez sobre a pandemia COVID-19 e a noção de mudança, a 27 de Março falámos sobre o equilíbrio em temos de pandemia, a 2 de Abril falámos sobre a importância de nos reinventarmos enquanto psicólogos trabalhadores independentes para nos adaptarmos… A 29 de Abril debruçámo-nos sobre os desafios de se ser estudante finalista nesta crise pandémica, a 4 de junho falámos sobre as competências para o novo normal e a 13 de Agosto falámos sobre desconfinar a confiança.

Estamos agora em Novembro deste 2020 atípico e continua a ser importante que possamos criar um espaço para reflectir sobre o impacto da pandemia – já não nos debruçaremos sobre o impacto inicial da COVID-19 (a necessidade urgente de nos adaptarmos ao isolamento social, o teletrabalho, o ensino à distância, o reajuste da nossa actividade profissional, as perdas, a nova forma de viver…) – debruçamo-nos, desta vez, sobre o desenrolar desta onda que rebentou na nossa praia e nos levou, necessariamente, a um lugar diferente.

Se 2020, o ano da imprevisibilidade, nos deu alguma certeza é a de que nada é permanente e tudo muda… e por isso a incerteza é a única certeza que nos acompanha.”

Se 2020, o ano da imprevisibilidade, nos deu alguma certeza é a de que nada é permanente e tudo muda… e por isso a incerteza é a única certeza que nos acompanha. E por esse motivo, quando redigimos um texto nesta plataforma e quando nos atrevemos a pensar formas de apoiar a gestão pessoal de carreira dos psicólogos e futuros psicólogos, não o fazemos numa perspectiva de oferecer respostas definitivas ou “luzes ao fundo do túnel”, procuramos sim promover competências, desafiar a reflexão e promover o pensamento crítico – essencialmente procuramos fazer pensar. Até porque uma das nossas certezas é a de que qualquer “conselho” que possamos dar hoje, corre sérios riscos de deixar de fazer sentido amanhã. Noutras palavras, que não são minhas mas sim de Vasco Pinto de Magalhães, “não há soluções, há caminhos”. E é na construção destes caminhos que nos devemos focar, pois existirão sempre novas ondas a embater na nossa praia.

O desenrolar desta onda pandémica trouxe já uma série de consequências (a crise económica, as desigualdades, variadas questões em torno da saúde mental da população, as dependências, os casos de violência doméstica, o isolamento da população mais idosa, o uso indevido da tecnologia)… E das consequências que se vão constatando urge a necessidade de o psicólogo, face a um contexto em mudança, ser capaz de se posicionar e de perceber qual pode ser o seu contributo num período tão desafiante quanto o que atravessamos – não esquecendo, claro, as suas ressonâncias pessoais face ao que vivencia, as suas próprias incertezas, as suas dificuldades, os seus obstáculos. Afinal, o psicólogo é o seu próprio instrumento de trabalho.

E é neste seguimento que, não pretendendo oferecer soluções, sugiro que possa aproveitar para pensar em caminhos que lhe permitam navegar a incerteza.

  • É fundamental que crie (ou mantenha) rotinas e hábitos saudáveis – desde cuidar o seu sono, alimentação e hidratação, a realizar actividades de lazer (aqui constam algumas sugestões partilhadas por colegas e um filme para dias chuvosos), a investir nas suas relações interpessoais, mesmo à distância;
  • Este é um momento de adaptação, reposicionamento – sugerimos que possa fazer um balanço reflexivo sobre si mesmo, ponderando como se sente (poderá utilizar esta checklist) e tomando medidas de auto-cuidado que o amparem;
  • A nível profissional, a noção de “desafio” será certamente familiar – a prática da Psicologia continua a mudar e a desenvolver-se à medida que rebentam novas ondas na praia, e torna-se fundamental que possa investir no seu desenvolvimento profissional contínuo e na formação e aprendizagem ao longo da vida. Neste seguimento, sugiro que possa aproveitar para consultar os documentos de apoio relacionados com a COVID-19 elaborados pela OPP.

Concluo este texto com um pequeno excerto da obra já supramencionada, desafiando-o a permitir-se crescer com a mudança:

Só uma profunda vida interior e uma visão adequada do mundo podem sustentar a esperança para além de qualquer crise (…) É um engano pensar num mundo sem luta (…) ao desistir do esforço, ao nivelar por baixo e sem exigência, ficamos prisioneiros das dificuldades e sem saída.

In “Não Há Soluções, Há Caminhos”, Vasco Pinto de Magalhães