Movimento (e primeiros passos)

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Artigo por Ana Leonor Baptista

Se pensarmos na primeira vez que fizemos qualquer tarefa/actividade, profissional ou não, provavelmente vamos rir-nos. Para mim é hilário pensar na primeira vez que fiz escalada, na minha primeira tentativa de fazer crochê, na primeira vez que fiz uma avaliação neuropsicológica sozinha (a contar os minutos que tinha de preencher entre tarefas de evocação imediata e de retenção das provas de memória, com muitos pensamentos catastróficos à mistura), na primeira vez que dei uma aula… Imagino que seja mais ou menos o mesmo para um actor que pense no primeiro papel que desempenhou, um compositor que pense na primeira música que escreveu, ou um empreendedor que pense na sua primeira ideia de negócio… As nossas primeiras vezes são frequentemente incoerentes e pouco indicativas do nosso sucesso futuro. As nossas ideias constroem-se a partir de fragmentos dispersos… e por isso o primeiro passo que damos nunca será, em si, um passo errado.

Precisamos de nos mexer.

As nossas primeiras vezes são frequentemente incoerentes e pouco indicativas do nosso sucesso futuro. As nossas ideias constroem-se a partir de fragmentos dispersos… e por isso o primeiro passo que damos nunca será, em si, um passo errado.

O movimento cria respostas, desde que este continue a acontecer. O movimento permite a construção.

O empreendedorismo em Psicologia é engraçado. Há muitas formas de empreendedorismo que vão para além da criação do próprio negócio/do próprio emprego: temos os colegas que, enquanto trabalhadores independentes, se desdobram entre mil papéis e mil funções para diferentes entidades (e em nome próprio); temos os psicólogos que, integrados em determinadas entidades, concebem e implementam projectos inovadores; temos os psicólogos que utilizam as redes sociais para informar o público e desmistificar ideias erróneas sobre a saúde mental; e muito mais… Os psicólogos são profissionais que à partida são detentores de competências como a criatividade, a inovação, o pensamento crítico, a orientação para as soluções, a capacidade de resolução de problemas. Mas, por vezes, acabam por pecar em aspectos como a (falta de) confiança nas suas ideias, a coragem de arriscar, a comparação com colegas já bem estabelecidos – o medo.

Todos os primeiros passos são dados com receio, ânsia mas também expectativa… e a realidade é que, à partida, os nossos primeiros passos nunca serão muito bons. Vivemos numa cultura de resultados – quando vemos um colega com uma marca digital muito bem conseguida / com o seu próprio negócio a triunfar / a lançar um livro interessantíssimo, frequentemente tal corresponde à centésima tentativa destes colegas (salvo, claro, algumas excepções) – estamos a ver a ideia brilhante, à qual antecederam dezenas ou centenas de primeiros passos falhados. No entanto, muito provavelmente vamos comparar o nosso primeiro passo com o sucesso à centésima tentativa de outra pessoa qualquer (isto faz-lhe sentido? Se fosse jogar experimentar jogar ténis pela primeira vez, comparar-se-ia a Serena Williams ou Federer? Então porque é que profissionalmente o faz?).

Se a sua primeira ideia falhar, não se deixe paralisar pelo medo de tentar outra vez… mexa-se, movimente-se. Não rumine sobre o primeiro passo, sobre o primeiro rascunho, sobre a opinião alheia, sobre o insucesso. Use os dados desse fracasso e reflicta:

  • O que retiro da minha primeira tentativa? Que aprendizagens?
  • Planeei bem? O que poderia ter antecipado?
  • Que ferramentas utilizei? Conheço mais algumas?
  • Fiz uma análise SWOT da minha ideia? Usei o modelo CANVA?
  • Preciso de formação (pessoal, profissional) suplementar? Se sim, já identifiquei concretamente qual a oferta formativa adequada às minhas necessidades?
  • Que aprendizagens posso retirar do meu fracasso para a minha tentativa #2?
  • Qual o impacto que a minha ideia, as minhas soluções, causa(m) nos outros (clientes, parceiros, pares, etc.)?
  • O que é que eu vou oferecer de novo e único ao mercado? Porque é que os clientes vão escolher a minha oferta e não outra qualquer? Qual a minha proposta de valor?

O importante é que continue a haver movimento – o fracasso é sempre temporário, desde que a nossa postura seja de curiosidade e de abertura ao desenvolvimento pessoal e profissional.