Artigo por Ana Leonor Baptista
A geração Millenial (geração da internet ou geração Y) refere-se às pessoas nascidas entre a década de 80 e os anos 2000. Esta geração desenvolveu-se numa época em que existiram significativos avanços tecnológicos (lembram-se dos telefones fixos e câmaras fotográficas analógicas, tal como se lembram dos primeiros smartphones), tende a ser uma geração muito escolarizada e bem qualificada, porém vivenciou (e vivencia) um contexto socioeconómico instável e precário, tendo sido (ou sendo!) confrontada com dificuldades no acesso ao emprego, não obstante a sua adequação ao mercado de trabalho.
“[…] tudo o que um Millenial quer e procura é uma forma equilibrada de utilizar o seu talento e competências para servir algo maior, com impacto positivo no contexto e no futuro.“
Os Millenials, hoje com idades compreendidas entre os 25 e os 40 anos, representam parte significativa da população activa. São caracterizados como trabalhadores – tendem a trabalhar mais de 40h por semana e alguns têm mais do que um emprego (+info aqui). Ainda assim, valorizam um equilíbrio saudável entre a vida pessoal e profissional e procuram entidades que possam oferecer condições que se alinhem com esta expectativa. É uma geração que procura propósito e sentido no seu trabalho, e que tende a procurar entidades cujos valores e missão se alinhem consigo. Neste sentido, os Millenials querem acrescentar e contribuir para o seu contexto, querem fazer a diferença – são “changemakers” que acreditam no impacto positivo do activismo e no poder da voz colectiva.
Por terem crescido na “idade da internet”, são uma geração altamente atenta e envolvida com a tecnologia, com bons níveis de literacia digital e que aprecia a utilização das ferramentas digitais no mercado de trabalho. Também valorizam a flexibilidade e adaptabilidade nos modelos de trabalho e sentem-se confortáveis com regimes de trabalho remoto ou híbrido, o que não quer dizer que não reconheçam a importância dos momentos presenciais numa organização.
Ainda assim, estamos perante uma geração que mudou o paradigma e que, como tal, não foi poupada a críticas ou ideias pré-concebidas… Os Millenials também são vistos como privilegiados, pouco leais (“job hoppers” que saltam de emprego em emprego), obcecados com tecnologia, individualistas (não ouvem os outros) mas simultaneamente pouco autónomos (precisam de feedback constante). Tentemos desconstruir: os Millenials entram, com dificuldade, no mercado de trabalho e deparam-se com vínculos precários, cargas de trabalho elevadas, e colegas mais velhos que usufruem de melhor remuneração para o desempenho da mesma função… talvez não sejam privilegiados ou intitulados, mas estejam sim a tentar lutar por condições mais adequadas. Isto relaciona-se com a segunda assunção de que esta é uma geração desleal – à semelhança da geração mais nova Gen Z, os Millenials estão dispostos a trabalhar, desde que com as condições certas – por este motivo não têm medo de procurar oportunidades que considerem melhores para si. Se por um lado são vistos como trabalhadores que rebelam contra hierarquias, por outro lado são vistos como a geração que precisa de feedback e amparo/apoio até nos mais pequenos pormenores – mas talvez os Millenials não sejam necessariamente pouco autónomos nem individualistas – eles procuram feedback, programas de mentoring e de desenvolvimento pois privilegiam a qualidade no seu trabalho e querem investir no seu próprio desenvolvimento pessoal/profissional. Esta é uma geração de ruptura e, como tal, uma geração que defende com assertividade aquilo em que acredita (mesmo que tal implique adoptar um posicionamento mais opositor ou disruptor).
Como qualquer outra geração anterior ou posterior, os Millenials podem trazer fortes contributos ao mercado de trabalho e podem apoiar na prossecução de um futuro do trabalho mais equilibrado – é uma geração que valoriza locais de trabalho saudáveis, que promove a inclusão, que se preocupa com causas sociais (e consegue ver para além de si), que integra a tecnologia no dia-a-dia de forma positiva, para além de ser altamente qualificada e resiliente. É a geração impulsionadora da progressão de carreira (que pode significar um aumento salarial, mas também um investimento na formação pessoal/profissional, um reajuste de funções…), é uma geração capaz de um ritmo de trabalho elevado (pois foi esse o ritmo imposto nos seus anos de desenvolvimento) e, como já vimos, é uma geração com um forte sentido ético e preocupação social.
Seria um erro crasso as entidades descartarem os recursos desta geração – mas, para tirarem o melhor partido da geração Millenial, as entidades têm de se tornar “construtoras de talento”, em vez de consumidoras de trabalho. Têm de inspirar e investir, em vez de impor e restringir – a lealdade deve ser demonstrada de parte a parte: se uma entidade conseguir demonstrar ao seu colaborador a sua disponibilidade para comunicar, escutar e pensar diferente, não precisa de se preocupar com “job hoppers” pois tudo o que um Millenial quer e procura é uma forma equilibrada de utilizar o seu talento e competências para servir algo maior, com impacto positivo no contexto e no futuro.