Artigo por Joana Almeida Monteiro
No mundo de trabalho actual, sabemos que a forma dinâmica como as pessoas gerem a sua carreira faz com que seja, mais do que há umas décadas atrás, natural que haja nas organizações entrada e saída de trabalhadores. Ao mesmo tempo, para cada um de nós, lidar com a saída de um emprego é algo que todos podemos esperar – já não se esperam “empregos para a vida”.
A dimensão social de uma transição de emprego é inegável, por pouco tempo de serviço que seja, por (aparentemente) superficiais que pudessem ser as relações interpessoais numa organização. Mesmo para quem trabalhe por conta própria, há sempre relações (com clientes, fornecedores, …) a acautelar no processo de transição. Note-se que, até em termos mais formais (na Lei, estudos sociológicos, …), se fala de “vínculo laboral”, “relação laboral”. Implica sempre “ligação”, “relacionamento”. Um eixo entre Nós e Outro(s).
Assim, cuidar da rede profissional nesta transição, é algo de que não nos devemos esquecer, que deve estar presente na nossa conduta. A nossa saída pode parecer um processo centrado em nós, mas considerando que estamos nesta relação com tantas pessoas (e, se quisermos colocar desse modo), teremos sempre de procurar ser empáticos com a situação dos que nos rodeiam, ao ver-nos partir.
“Ao mesmo tempo, para cada um de nós, lidar com a saída de um emprego é algo que todos podemos esperar – já não se esperam “empregos para a vida“.
Geralmente estamos bastante preocupados com as “primeiras impressões” – e elas realmente importam – no modo como somos percepcionados pelos outros. Mas, além disso, na carreira, a forma como nos desvinculamos de um trabalho é crucial pois influencia o modo como fazemos a manutenção da nossa reputação profissional (perante os outros mas, diria, até perante nós próprios). Que imagem deixamos de nós? Como podemos controlar essa “última impressão”? Como se pratica o, tão importante, chamado “sair a bem”? Ficam algumas pistas para pensar:
- Pondere sobre o melhor timing. Antecipe implicações para si e para a organização do momento em que se irá dar a saída.
- Respeite hierarquias e regras da organização ao comunicar, pois cada organização tem as suas dinâmicas e é importante procurar que todos os envolvidos ficam a saber da notícia por si e não por terceiros.
- Assuma a responsabilidades até ao fim. Mesmo estando de saída, além de ter um compromisso até ao último dia, tem ainda aspectos de compromisso informal (ex., perante a sua equipa, os clientes/pacientes, …). Alguma flexibilidade, dentro da sua possibilidade, para facilitar a transição para quem ficar a assegurar o seu trabalho, por exemplo, são aspectos que fazem toda a diferença. Tenha especial atenção para os aspectos éticos e deontológicos associados à nossa profissão, dependendo do contexto em que esteja (ex., dar seguimento acompanhamento clínico e as suas circunstâncias, cuidados com os registos de sessão, …).
- Procure partilhar, com transparência e diplomacia, os motivos da saída. Lembre-se que a organização também beneficia do feedback dos trabalhadores.
- Tenha presentes os aspectos pelos quais se sente grato, e agradeça a oportunidade. Mesmo que nem tudo seja positivo, certamente que houve aspectos do trabalho ou algumas pessoas que contribuíram para que a sua experiência tenha implicado aprendizagem, crescimento profissional e evolução pessoal. Esta reflexão também ajuda muito a que saia com um outro significado atribuído ao que deixa para trás.
- Deixe os seus contactos e mostre abertura para manter contacto. A rede profissional constrói-se assim, de pessoas com quem nos cruzamos e que conhecem alguma faceta nossa enquanto profissionais. No entanto, há que manter e cuidar dessas relações. No mínimo, tenha uma conexão activa via LinkedIn.
Termino com uma frase que, pessoalmente, me conforta em despedidas, pois sublinha esse lado da relação com aqueles com quem nos cruzamos. Quando penso nos momentos em que vi colegas partir para outros desafios, ou quando no passado parti eu, lembro-me que, além do contentamento pela satisfação de quem parte para algo que espera melhor, o que mais valorizo é o que fica de legado de trabalho, de aprendizagem, de competências desenvolvidas no trabalho colaborativo, e da imagem que nos fica das atitudes das pessoas, incluindo as que acompanharam o processo de saída. Por outro lado, gosto de pensar na marca que, eu mesma, deixei nessas pessoas, esperando que seja o mais positiva possível.
“Aqueles que passam por nós não vão sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós” – Antoine de Saint-Exupéry, n’ O Principezinho