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Interesses, Carreira e Vocação

Artigo por Edite Queiroz

No artigo anterior (“Escutar por Dentro“), concluímos com uma referência ao auto-conhecimento enquanto produto maior do desenvolvimento pessoal, um processo que se estende ao longo do ciclo de vida e que é necessariamente intencional. As vantagens do auto-conhecimento são incontáveis e têm efeitos directos em todas as dimensões da vida – por exemplo, influi na percepção e capitalização de características e interesses pessoais, no domínio do pensamento e do comportamento (processos de auto-controlo), na auto-regulação emocional, na utilização estratégica das nossas virtudes e talentos, na gestão eficaz dos nossos pontos fortes e percepção dos pontos fracos, na auto-confiança e auto-estima, no desenvolvimento da empatia, sentido de solidariedade e consciência em relação ao Outro, na percepção de oportunidades relevantes e consonantes com a nossa personalidade ou na facilitação do desenvolvimento de um foco ou rumo de acção (pessoal ou profissional).

“…[…] uma vez que cada tipo de personalidade apresenta uma forma de interacção interpessoal e estratégias preferidas de resolução de problemas, a escolha de um contexto de intervenção na Psicologia é necessariamente uma manifestação da personalidade.

Comecemos pela questão dos Interesses. Muitos dos estudantes de Psicologia estarão familiarizados com a Teoria dos Interesses e das Escolhas Vocacionais de Holland (também conhecida como Modelo Hexagonal de Holland), amplamente utilizado na Psicologia Vocacional. O modelo tenta explicar porque é que escolhemos determinadas profissões e quais os factores pessoais e ambientais que facilitam ou dificultam o sucesso profissional, sugerindo que procuramos contextos laborais que correspondam à nossa personalidade e vocações – permitindo assim a aplicação das nossas melhores competências e a expressão dos nossos valores.

De acordo com o modelo, os interesses vocacionais distribuem-se num hexágono em que cada ângulo corresponde a um determinado tipo de personalidade: Realista (R), Investigativo (I), Artístico (A), Social (S), Empreendedor (E) e Convencional (C). O modelo pretende explicar a relação entre os diferentes tipos de personalidades e o ambiente profissional escolhido por cada indivíduo. As semelhanças psicológicas entre os tipos de personalidade são proporcionais às distâncias entre os mesmos no hexágono: quanto menor for a distância maior é a semelhança psicológica entre eles. Por exemplo, o tipo Social e Empreendedor, que são contíguos no esquema, são semelhantes no que concerne ao contacto com pessoais, enquanto o tipo Artístico e Convencional, opostos no esquema, são radicalmente diferentes (o Artístico envolvendo uma dimensão mais criativa e o Convencional envolvendo a formalidade e a ordem).

A maioria de nós combina dois ou três dos tipos de personalidade descritos. No decurso do desenvolvimento pessoal e profissional, as preferências vocacionais vão-se transformando em interesses profissionais reais através da interacção entre estímulos ambientais e aspectos motivacionais internos. Assim, uma vez que cada tipo de personalidade apresenta uma forma de interacção interpessoal e estratégias preferidas de resolução de problemas, a escolha de um contexto de intervenção na Psicologia é necessariamente uma manifestação da personalidade. A identificação da nossa tipologia é um exercício que pode ser relevante na identificação de áreas ou contextos de intervenção que melhor correspondam aos nossos traços de personalidade, aptidões e interesses, contribuindo, em última análise, para trajectórias profissionais mais satisfatórias e bem-sucedidas.