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Idade: um número de valor acrescentado

Ao longo dos últimos anos, temo-nos deparado com uma realidade que pode influenciar a forma como deve ser visto o mercado de trabalho nos próximos tempos. O índice de envelhecimento, como todos sabemos, tem aumentado, havendo quase duas vezes mais idosos do que jovens e crianças, indicando as projeções que os números continuarão a aumentar até 2060.

Associado a este cenário, está a estrutura produtiva do nosso país e a necessidade de vidas activas durante mais tempo. Dados recentes apontam para o facto de, em menos de uma década, ter-se perdido 134 mil activos e que, se nada mudar, os portugueses terão de trabalhar até aos 72 anos.

Perante este cenário, surge uma questão:

– Estará o mercado de trabalho, que considera as pessoas velhas para trabalhar aos 40 ou 50 anos, preparado para isso?

Um tema que tem vindo a ser muito abordado nos últimos tempos, prende-se precisamente com o “idadismo” e o desperdício de talento das gerações mais velhas, e de como tudo isto pode afectar as pessoas e a sua perspectiva de mudança profissional ou na carreira, nesta faixa etária.

Curiosamente, numa sociedade que cada vez mais se insurge contra as discriminações, a verdade é que a idade continua a ser o maior factor de segregação profissional. O “idadismo”, ou seja, o preconceito e a segregação pelo efeito da idade, começa cada vez mais cedo, o que acaba por ser paradoxal, num tempo em que vivemos até cada vez mais tarde. E a prova está nas próprias conotações e mitos acerca da chamada “meia-idade”, que é vista como uma espécie de “antecâmara da terceira idade ou da velhice”. Mas a questão é que acaba por ser aceite, o que nos leva a questionar sobre o porquê. A razão é simples, o factor idade acarreta forçosamente uma série de alterações que acabam por colidir com a lógica de funcionamento da sociedade actual, pois o factor idade implica, por exemplo, uma maior lentidão (numa sociedade que é mais apressada), implica memórias e apegos (numa sociedade que é do “efémero”) e envolve uma maior reflexividade (numa sociedade que não pensa).

A carreira profissional acaba por ser uma das áreas em que mais se sente o factor do “idadismo”, nomeadamente, pelo efeito do real impacto na vida das pessoas que acabam por ser segregadas no mercado de trabalho, por esse factor. Muitas pessoas com 40 ou 50 anos podem, até, idealizar uma mudança profissional ou na carreira nesta fase de vida, mas logo recuam ou se veem impedidas de o fazer, pelo facto de sentirem que o mercado não as valoriza e não as procura tanto quanto aos jovens, ou por sentirem que, sendo o mercado cada vez mais competitivo, os empregadores dificilmente acompanham as suas expectativas salariais. Mas não nos esqueçamos que o talento e a experiência são factores valiosos. Sendo a idade sinónimo de “tempo” e, sendo o “tempo” sinónimo de “dinheiro”, esta aposta não deveria ser encarada como um custo acrescido, mas antes como um investimento.

O desperdício de talento associado ao “idadismo” é demais evidente há já algum tempo. É um fenómeno típico, o das gerações mais novas, acharem que os saberes, as experiências e as competências dos mais velhos se encontram desfasados da actualidade e que, por isso, podem ser considerados inúteis. Contudo, é importante contrariar este mindset social por meio de uma, cada vez maior, consciencialização para o facto de que o desenvolvimento só pode ser sustentável se assentar num intercâmbio de contributos intergeracionais. O respeito pelas diferentes faixas etárias não só cria uma cultura mais justa e inclusiva, como contribui também para o crescimento e sucesso das empresas/instituições/organizações.

Não é difícil antevermos que o futuro poderá passar, assim, por um mercado de trabalho muito mais intergeracional, até porque um ambiente de trabalho heterogéneo, em termos de idades e de conhecimentos, estimula muito mais a criatividade e a produtividade, pois os mais velhos podem sempre ser os mentores dos mais novos.

Tendo em conta esta perspectiva, uma mudança profissional ou na carreira aos 40 ou 50 anos não deve ser encarada como um risco, mas cabe a cada um/a, nessa circunstância, contribuir também para contrariar a mentalidade social ainda muito enraizada. Ninguém pode alterar a idade que tem, mas todos podem perceber como lidam com o tema e talvez agir de forma diferente em muitos casos.

Se alguém com 40 ou 50 anos necessitar ou desejar, nesta fase de vida, uma mudança profissional ou na carreira, mas tiver um discurso limitativo sobre a sua idade, o mais certo é que atribua cada dificuldade que encontra à própria idade e esta atitude acaba por lhe retirar poder e capacidade para realizar uma eventual mudança. Deste modo, é importante cada um/a perceber onde está o seu foco e, se necessário, reestruturar o seu pensamento no sentido de objectivar o mais possível as suas decisões. Reconhecer desde logo o seu talento, a sua experiência e todos os seus pontos fortes enquanto profissional com 40 ou 50 anos, é crucial. Saber que pode colocar ao serviço de qualquer empresa/instituição/organização as suas competências, skills e network, investir no seu marketing pessoal, na sua formação e numa actualização permanente de conhecimentos, são mecanismos que poderão contribuir para essa mudança, sem receios.

É importante não esquecer que a experiência é sempre um valor seguro e que o talento se caracteriza também pela maturidade. Para além disso, a diversidade de situações profissionalmente vivenciadas, tanto triunfos como insucessos, tornam qualquer profissional desta faixa etária muito mais flexível e versátil, permitindo-lhe ter uma maior capacidade de adaptação às mudanças e ao próprio mercado de trabalho.

Se alguém com 40 ou 50 anos ambicionar uma mudança na sua carreira, não se deve definir pela idade. Deve, antes, saber mostrar o seu valor e potencial independentemente disso, o que se traduz em autoconfiança e uma cada vez maior disponibilidade para o tal trabalho intergeracional.

O combate ao “idadismo”, aliado à valorização do contributo dos profissionais mais velhos, é um processo que envolve não só uma mudança de políticas de emprego e de contratação, mas, acima de tudo, uma mudança de mentalidade social a qual deve começar, desde logo, pelos próprios.