Artigo por Vanda Vieira
Inicia-se um novo ano, e com ele novos desafios. O período de Natal permite-nos estar com a família e, ao mesmo tempo, ganhamos algum tempo para pensar, para fazer um balanço do ano que termina e reflectir sobre o que gostaríamos de alcançar com o novo ano que se avizinha. Cada um à sua maneira encontra as melhores estratégias, mais ou menos estruturadas, de o fazer. Importante mesmo é termos esse tempo para nós! É desta auto-avaliação que surgem algumas ideias de projectos que gostaríamos de concretizar: um novo espaço de trabalho, um novo livro, uma formação diferenciadora e que me vai ajudar a ter mais ferramentas e um outro posicionamento no mercado, um trabalho em parceria a desenvolver com outros colegas de profissão e que ficou na gaveta porque surgiram outras prioridades e urgências, etc.
Pensemos nos contributos dos/as psicólogos/as para a transição digital e social. De que forma podem os/as psicólogos/as chegar a pessoas com menos oportunidades de acesso aos serviços de saúde, ao mercado de trabalho? Como podemos contribuir de forma criativa e inovadora para eliminar esses obstáculos?
Infelizmente, ainda são obstáculos os problemas de saúde mental em parte significativa da população portuguesa, e que se agravaram com a pandemia. Pelo que é fundamental promover o nosso trabalho numa lógica preventiva, na promoção de locais de trabalho saudáveis, de escolas saudáveis e de comunidades mais inclusivas e resilientes. São ainda obstáculos as diferenças culturais e sociais, por exemplo, no caso dos migrantes e refugiados, pessoas que manifestamente apresentam dificuldades de adaptação cultural. Do ponto de vista social, existem obstáculos decorrentes de circunstâncias familiares, pessoas que apresentam competências sociais limitadas, comportamentos de risco e marginalização social; e também das circunstâncias económicas, associadas aos baixos rendimentos, as situações de precariedade e de exclusão.
Contudo, estes obstáculos podem potenciar novas oportunidade de trabalho para os/as psicólogos/as. A pandemia COVID-19 evidenciou as vantagens das novas tecnologias em contexto de intervenção clínica. As tecnologias de informação e de comunicação quando combinadas com a aprendizagem virtual e a cooperação são poderosos meios de disseminação de conhecimentos e de práticas de trabalho. Também a nível do combate às alterações climáticas, seja a nível macro (sistema), seja a nível micro (organizações), os/as psicólogos/as podem ter um envolvimento activo e actuar enquanto agentes impulsionadores de mudança, por exemplo, nas mudanças comportamentais que envolvem a poupança de recursos, a redução da pegada de carbono, as escolhas sustentáveis em termos de mobilidade, etc., em suma, podem apoiar o desenvolvimento sustentável. Também a nível da participação ativa e cívica, é valorizada a prática profissional dos/as psicólogos/as que envolvam os cidadãos nos processos democráticos, nas comunidades ou na vida política e social, em complemento com as medidas de educação formal, a aprendizagem não formal a fim de melhorar o sentimento de pertença e coesão social. A formação contínua dos profissionais deve fomentar as competências sociais e interculturais, para além das competências técnicas, bem com o diálogo social e o pensamento critico. São áreas em que podemos intervir, sempre com tendo por base a resolução dos reais problemas das pessoas, ouvindo e envolvendo as partes interessadas na decisão, propondo medidas inovadoras para colmatar lacunas em matérias de aptidões e competências, e contribuindo para a implementação de ações com impacto, tangível e intangível, e que possam ser partilhadas e disseminadas noutros territórios e públicos-alvo.