Artigo por Ana Catarina Silva
Quando terminamos o curso, é expectável que a entrada no mercado de trabalho para o exercício da profissão escolhida se concretize com a maior brevidade possível. Cheios de conhecimentos e energia, ansiamos a oportunidade que nos permita exercer para o que tanto estudamos e investimos.
Mas, chegados ao mercado, somos inundados de dúvidas e incertezas, muitas já reflectidas ao longo deste blog; Além do essencial investimento no esclarecimento destas, há ainda muito mais o que pode ser feito, por cada um de nós!
“Apesar de ser um caminho mais trabalhoso, alcançar a(s) resposta(s) até onde está realmente disposto a ir, não obstante não garantir por si só um emprego ou melhoria imediata, permite sempre um posicionamento, uma orientação e um propósito – elementos essenciais e diferenciadores, quando a gestão da carreira é o que acredito que verdadeiramente deve ser, muito mais que sucessivos empregos.”
Ao longo da minha carreira, fui-me apercebendo que ninguém, nunca, me perguntou directamente até onde estava disposta a ir. Não me refiro ao que queria/gostava de fazer, mas sim e exactamente esta pergunta: até onde estás disposta a ir?. Eu própria, durante muito tempo, não me perguntei até onde estava disposta a ir.
O caminho vai-se traçando, na maior parte das vezes pelas oportunidades que surgem e a carreira vai acontecendo. Mas entre o conforto e desconforto dos vários cenários, quando falamos na gestão da nossa carreira emerge a importância de parar, mesmo antes de avançar para o mercado de trabalho, reflectir e obter, várias vezes e as vezes que forem necessárias, esta resposta (mesmo e, diria até, especialmente em situação de crise pandémica pela COVID-19 ou outras situações de crise).
Foi já com alguns anos de prática profissional que me perguntei – até onde estás disposta a ir e, a primeira resposta foi, não sei!
E como saber até onde estamos dispostos a ir?
Tal como a(s) resposta(s) também o caminho para lá chegar é, e deve ser, uma permanente construção inacabada.
Nas “mãos” do mercado, a resposta surgirá marcada pelas oportunidades, pelos sins e pelos nãos, pelas tendências, sendo este o responsável pela resposta e, principalmente, pelo nosso caminho.
Esta é uma resposta tão válida como outra qualquer, desde que, consciente, e acima de tudo aceite, por nós, que estamos dispostos a ir, até onde o mercado nos permitir e que apesar de até se poder revelar confortável, está é a resposta que mais nos desresponsabiliza pela gestão da nossa própria carreira.
No exercício pleno do princípio da autodeterminação, compete-nos, também, assumir a responsabilização pela gestão da nossa carreira, pelo menos uma vez, até porque, depois, não será certamente a última.
Num exercício simples, mas sincero, sugiro a elaboração de duas listas:
- Lista 1: áreas nas quais gostava de desenvolver actividade profissional, tipo de entidades e em que locais geográficos (o mundo é enorme). Isto engloba a área da Psicologia, mas não só.
- Lista 2: o que considera essencial nas dimensões pessoal e social, incluindo a família, amigos, actividades e objectivos (não profissionais) que deseja concretizar. Aqui deverá considerar tudo, como o gosto por morar junto à praia, preferir cidades pequenas ou grandes, ter cães ou gatos, falar apenas português ou gostar de aprender novas línguas. Interessa também ponderar as saudades, se gosta de calor ou frio…
Cruze todos os itens das duas listas, faça o máximo de conjugações possíveis e crie uma hierarquia de conforto e desconforto, posicionado na mesma todas as conjugações criadas.
Apesar de ser um caminho mais trabalhoso, alcançar a(s) resposta(s) até onde está realmente disposto a ir, não obstante não garantir por si só um emprego ou melhoria imediata, permite sempre um posicionamento, uma orientação e um propósito – elementos essenciais e diferenciadores, quando a gestão da carreira é o que acredito que verdadeiramente deve ser, muito mais que sucessivos empregos.
Mantermos presente até onde estamos dispostos a ir e com isto a disponibilidade, abertura e flexibilidade para ir, repetirmos este exercício sempre e as vezes que forem necessárias, numa perspectiva de gestão contínua do conforto e desconforto dos vários cenários, constitui-se como uma ferramenta essencial, contribuindo para a verdadeira responsabilização, mas também usufruto, da gestão pessoal da nossa própria carreira.
E se estamos dispostos a ir, avancemos, já em 2021!