Artigo por Joana Almeida Monteiro
“Onde se vê daqui a X anos?” é uma das questões que frequentemente surgem em contexto de entrevista de emprego. Quantos de nós saberemos responder a isto? A maioria, provavelmente nem com meia hora para pensar no assunto consegue dar uma resposta, quanto mais verbalizá-lo assim, de repente, numa situação em que as nossas hesitações são alvo de interpretação.
Em tempos de incerteza como os que temos tido de navegar nos últimos anos (e teremos, no futuro – a incerteza é uma constante na equação), podemos sentir ser protector não termos uma visão para o futuro, não olharmos em diante, não nos comprometermos com um plano que corre o risco de não ser válido dentro de algum tempo. Algo que nos esquecemos é que qualquer plano pressupõe mudança – um bom plano é aquele que sabemos com certeza que será alterado ao longo do tempo, pois só assim é um plano realista (afinal a realidade irá sempre mudar, só não sabemos bem como).
“[…] há que compreender que há custos e recursos mobilizados para integrar uma nova pessoa, pelo que é natural que se queiram certificar que esse investimento de recursos para nos formar e integrar numa nova função valerá a pena. Se mostrarmos que “estamos só de passagem” acabamos por mostrar que o investimento pode não valer a pena, que o nosso comprometimento é passageiro.”
Pensando agora apenas de forma prática, centrada no momento de entrevista e quando nos colocam tal tipo de questão – porque será que um empregador nos pergunta tal coisa? O que pretendem saber é se seremos um bom candidato à vaga em questão e, como tal, perceber se este trabalho a que nos propomos se encaixa no nosso plano de carreira, se as nossas ambições estão alinhadas com os objectivos da entidade e se nos manteremos neste trabalho por um período razoável. Não nos iludamos (nem a nós, nem aos outros): sabemos bem que não vamos trabalhar ali para sempre e se respondermos desse modo vai soar estranho. Mas há que compreender que há custos e recursos mobilizados para integrar uma nova pessoa, pelo que é natural que se queiram certificar que esse investimento de recursos para nos formar e integrar numa nova função valerá a pena. Se mostrarmos que “estamos só de passagem” acabamos por mostrar que o investimento pode não valer a pena, que o nosso comprometimento é passageiro. A retenção de talento é um dos grandes problemas actuais para os empregadores (problema esse que muitas vezes é oportunidade de trabalho para os Psicólogos!).
Assim, além de devermos investir (para nosso próprio benefício e da nossa carreira) em reflectir acerca da nossa visão de futuro, como podemos responder a uma questão destas em entrevista?
- Comunique que está nos seus planos manter-se nesse trabalho por um período de tempo razoável (nem para sempre, nem “só de passagem” por um par de meses – excepção, claro, se o trabalho em questão for explicitamente para uma substituição ou uma vaga temporária)
- Relacione os seus planos com a descrição da função e as competências envolvidas na mesma.
- Se ainda não lhe é muito fácil identificar quais são, verdadeiramente, os seus objectivos de carreira, centre-se na sua capacidade para desempenhar esta função
- Inclua na resposta os seguintes elementos: período de tempo (“até ao ano xxxx gostaria de…”, “no espaço de 5 anos vejo-me…”), desenvolvimento de competências (“melhorar a minha capacidade de monitorizar indicadores…”), objectivos para o futuro (“com o evoluir das minhas competências em xxx, creio que poderei vir a trabalhar com yyy”)
- Não inclua nesta resposta os seguintes elementos: localização (“vir a trabalhar mais perto de casa”), salário (“…entretanto serei promovido e terei melhores condições”) e vida pessoal e familiar (“…e assim conciliar com os horários da escola do meu filho”). Ainda que estes temas possam ser relevantes no decurso da entrevista, para esta resposta em concreto é importante estar centrado na carreira e na reafirmação da intenção de se envolver neste trabalho e estar comprometido em permanecer nele por algum tempo.
O que nos pode ajudar a ter uma resposta mais acertada? Antecipar esta questão e preparar uma resposta é algo que qualquer um de nós deve fazer, pois com essa preparação maximizamos a possibilidade de nos considerarem o candidato mais adequado. No fundo, a nossa resposta deverá tranquilizar o empregador, mostrando que os recursos que vier a investir em nós serão bem investidos e que o que nos propomos a fazer tem significado para nós (é quase como num namoro “não és só mais um/a”). Por fim, devemos pensar que à partida estamos num cenário de competição, ou seja, haverá mais candidatos a quem esta questão será colocada, e por isso tentaremos integrar na nossa resposta algum aspecto diferenciador dos nossos planos para o futuro que mostre que somos um candidato único e, esperamos nós, o ideal.