Artigo por Ana Sofia Nobre
“Empreendedorismo – refere-se ao conceito de desenvolver e gerir uma ideia, ao processo de iniciativa de implementar um novo negócio ou uma mudança num serviço/produto/empresa já existente” como nos partilha Ana Leonor Baptista, no artigo dedicado a estudantes de Psicologia, mas tão actual e ajustado para todos os psicólogos e psicólogas ao longo do seu ciclo de vida, realçando ainda a importância da competência técnica, de negócio e de relação, como essenciais no acto de empreender.
No entanto, existem outros níveis/dimensões que nem sempre são falados ou tão falados nas abordagens a este tema.
Para viajarmos nestes níveis/dimensões, desafio-vos a olhar para o empreendedorismo como se de uma cebola se tratasse, conseguem visualizar a cebola, ou seja, o todo, como o conjunto de várias camadas, umas mais espessas outras que se assemelham a pequenos véus? É assim que olho para o empreendedorismo.
Pelo que dando continuidade à metáfora alimentar, é como se existissem vários ingredientes macro e por isso mais visíveis e por vezes até mais valorizados, no entanto, há todo um conjunto de micro-ingredientes, que nem sempre tão visíveis podem deitar por terra uma excelente ideia de negócio ou um projecto aparentemente exímio, a esse conjunto de ingredientes chamarei – ingredientes para Empreender com Alma.
“…é como se existissem vários ingredientes macro e por isso mais visíveis e por vezes até mais valorizados, no entanto, há todo um conjunto de micro-ingredientes, que nem sempre tão visíveis podem deitar por terra uma excelente ideia de negócio ou um projecto aparentemente exímio, a esse conjunto de ingredientes chamarei – ingredientes para Empreender com Alma.“
Partilho alguns exemplos:
- A História– todos os projectos/ideias têm a sua origem, a sua história. Deste modo a narrativa que construímos em torno da origem do projecto, é essencial ao estabelecimento de conexão com os outros (clientes, parceiros, financiadores, comunidade).
- Paixão– como podemos esperar que alguém aprecie o nosso projecto e as suas potencialidades se não demonstramos paixão sobre o mesmo? A paixão que dedicamos e demonstramos sobre aquilo que fazemos e criamos tem de ser genuína e evidente, tanto na nossa linguagem verbal como não verbal. Esta capacidade de demonstrar entusiasmo, de acreditar, é um ingrediente importantíssimo, com capacidade de contagiar o meio envolvente.
- Razão– por outro lado, a “paixão” tem de ser sempre balanceada com a “razão”. Quando criamos algo, quando damos vida a um projecto/iniciativa, criamos por vezes um vínculo emocional muito forte com o mesmo. Certamente já ouviram vários empreendedores a usar expressões semelhantes a “este projecto é quase como se fosse o meu segundo filho”. Quando a paixão não surge de forma equilibrada com a razão, podem surgir dificuldades em identificar as limitações do projecto, aspectos de melhoria, assim como a aceitar outras visões e a equacionar novas soluções, toldando assim a capacidade de manter uma análise pragmática, que é essencial.
- Relação com os outros – somos ser sociais, necessitamos de estabelecer ligações, no entanto, algumas formas de empreendedorismo podem ser vividas de forma muito solitária. É importante que possamos quebrar esta ideia “eu e o meu projecto”. Ganhamos todos em cooperar, em estarmos próximos dos pares, até por exemplo no estabelecimento de uma relação numa lógica de supervisão/mentoria. Ganhamos todos em ouvir várias vozes, em rodearmo-nos de diferentes visões e realidades.
Por último, gostaria de destacar o ingrediente “tempo” – ingrediente essencial para Empreender com Calma.
Como refere a colega Anita de Sousa no seu artigo “O tempo é, assim, um ingrediente premium para a promoção da inovação, que carece de uma análise constante – a falta de espaço/tempo impossibilita a criatividade – mas a falta de prazos também inibe pensamentos inovadores no trabalho”.
Para além do impacto da dimensão tempo no acto de empreender fundamentado na visão acima, para que haja uma fluidez do processo criativo e da construção constante do projecto ou desenvolvimento da ideia, empreender com calma, significa também que todos os projectos/ideias de negócio necessitam de tempo numa perspectiva mais macro. Ou seja, projectos e ideias com potencial, precisam do seu tempo de crescimento, de estabelecimento, precisam do seu caminho de tentativa e erro. Respeitar este ciclo de crescimento e desenvolvimento com foco, requer resiliência, nem sempre é fácil, mas é também um dos ingredientes mais importantes a considerar sobre o empreendedorismo.
Já dizia Pessoa…“Tudo vale a pena. Se a Alma não é pequena”