Artigo por Ana Sofia Nobre
ODS 5º “Alcançar a igualdade de género e empoderar todas as mulheres e meninas”
Passaram quase dois anos desde que foi identificado o primeiro caso de covid em Portugal. À data, estaríamos longe de prever que, dentro de uma pandemia, surgiriam tantas outras pandemias que acentuariam problemas complexos já existentes, como é o caso da desigualdade, nomeadamente, na vida e na carreira das mulheres.
A profissional, a mãe, a cuidadora, múltiplos são os papéis assumidos pelas mulheres, papéis esses que em muitos dos casos já estavam assentes numa estrutura desigual, que foi acentuada pela crise socioeconómica decorrente da pandemia. Conclusões que podemos consultar em vários estudos sobre a temática e que identificam claramente um impacto negativo e desproporcional na vida e carreira das mulheres, sendo urgente evitar o retrocesso do progresso da igualdade de género, anteriormente alcançado.
Sendo este um dos vários problemas que me preocupa, partilho convosco que quando penso sobre esta realidade desigual, no imediato visualizo uma sequência de peças de dominó, alinhadas e próximas e creio não ser necessário partilhar mais pormenores, para que consigamos todos imaginar, que ao tocar numa das peças esta vai cair, o que acontece em sequência a todas as outras e é desta forma que visualizo esta problemática.
A pandemia afectou de forma mais severa sectores de actividade que envolvem contacto com pessoas(sector serviços), aqueles que representam uma percentagem significativa do emprego “tradicionalmente feminino”; conduziu a uma sobre-carga adicional no trabalho doméstico, sendo que as evidências demonstram que as mulheres continuam e dedicar o dobro do tempo dos homens, ao trabalho não remunerado; muitas mulheres ocupam empregos em economia informal, que geralmente ficam a descoberto no que toca a determinados direitos laborais, protecção social, de saúde e inclusive, há uma maior propensão a que sejam as mulheres a pedir para faltar ou a solicitar licenças para cuidar de crianças ou familiares ( aconselho que possam consultar estas e outras conclusões, num conjunto de infografias disponibilizadas pelo Parlamento Europeu.). Este é o efeito dominó que vos descrevia acima, sobre o qual detalho apenas, algumas das características de algumas das peças, que vão caindo e derrubando logo de seguida tantas outras.
“(…) psicólogos e psicólogas poderão ter um papel preponderante na mitigação dos impactos negativos na vida e carreira das mulheres, não só no suporte directo em termos de saúde mental, mas também no apoio à integração profissional, na gestão e conciliação de papéis”
Diria que estamos hoje mais longe de “Alcançar a igualdade de género e empoderar todas as mulheres e meninas”, conforme podemos ler na redacção do 5º ODS. Mas, segundo relatório da APA, sobre as 14 tendências emergentes, a Ciência Psicológica terá um papel cada vez maior na resolução dos desafios do mundo, sendo o comportamento humano a base de muitos dos problemas complexos, como é o caso das desigualdades. Deste modo, psicólogos e psicólogas poderão ter um papel preponderante na mitigação dos impactos negativos na vida e carreira das mulheres, não só no suporte directo em termos de saúde mental, mas também no apoio à integração profissional, na gestão e conciliação de papéis – work life balance, assim como na consultoria junto de organizações em questões de diversidade e no apoio à construção de políticas públicas que tenham em consideração este impacto desigual.
(P.S.-Não posso deixar de partilhar as minhas palavras de apreço para as psicólogas, que tal como todos os psicólogos têm e terão um papel preponderando neste caminho de equidade, diversidade e inclusão através da sua prática profissional, mas que poderão vivenciar esta dificuldade, acrescida pelo aumento do “malabarismo de papeis” acentuado pela pandemia.