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(Des)emprego e pobreza. Queremos verdadeiramente fazer perguntas?

Artigo por Anita Dias de Sousa

Ontem, dia 17 de outubro assinalou-se o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, data celebrada desde 1992. A primeira comemoração ocorreu em Paris, França, quando 100 000 pessoas se reuniram na Praça dos Direitos Humanos e Liberdades em Trocadéro para homenagear as vítimas da pobreza, fome, violência e medo, na inauguração do Monumento ao Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza em Libourne. Um monumento que surge do movimento “Agir tous pour la dignité Quart monde“.

Saímos de uma pandemia que mergulhou milhões na pobreza, assistimos todos os dias ao aumento das desigualdades, onde inúmeras economias são atingidas por perdas de empregos, preços vertiginosos de alimentos e de energia. Deparamo-nos diariamente com uma ameaça crescente de uma recessão global.

Simultaneamente, a cada momento, abrimos as notícias e percebemos que também o nosso planeta está em sofrimento, desencadeando uma crise climática, onde paralelamente ocorrem conflitos violentos, onde a pobreza carrega um fardo cada vez maior. O que podemos mudar? Como podemos contribuir para uma solução?

Somos surpreendidos diariamente com países em desenvolvimento a ser esmagados, sem acesso aos recursos indispensáveis à vida digna, como por exemplo, o alívio da dívida para investir na recuperação e no crescimento. Que casa estamos a construir? Faz sentido deixarmos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável fora do alcance?

“… a cada momento, abrimos as notícias e percebemos que também o nosso planeta está em sofrimento, desencadeando uma crise climática, onde paralelamente ocorrem conflitos violentos, onde a pobreza carrega um fardo cada vez maior. O que podemos mudar? Como podemos contribuir para uma solução?”

Todos temos um papel fundamental, na abordagem de causas profundas. Talvez comecemos, por algo que ouvimos todos os dias, há vários anos, os dados sobre a situação do (des)emprego. Uma questão que surge também, inúmeras vezes no pensamento de um(a) psicólogo(a)/ psicólogo(a) júnior. Primeiramente na procura pelo Ano Profissional Júnior e, posteriormente, no encontro de um emprego digno. Aproveitamos este momento, para relembrar um medo e simultaneamente, uma realidade, que nos transporta para outro tipo de pobreza. Sabia que existem pessoas empregadas que vivem na pobreza? Também conhecidos como trabalhadores pobres – surgem no seguimento de baixos rendimentos e condições de trabalho inadequadas, face às transformações da actualidade. Paralelamente, no caso das pessoas fora do mercado de trabalho, podemos falar de uma pobreza causada pela falta de oportunidade de emprego e/ou protecção social insuficiente. Nesse sentido, torna-se importante a partilha/ criação de oportunidades de emprego específicas, concretas e dignas, damos o exemplo da Bolsa de Emprego da Ordem dos Psicólogos Portugueses, um recurso de acesso gratuito e semanal.

Uma forma de avaliarmos a relação entre a pobreza e o emprego é através de dados sobre o emprego distribuídos por sectores económicos, e essencialmente na partilha dos(as) empregados(as) que são pobres – taxa de pobreza no trabalho, um dado significativamente relevante para a formulação de políticas eficazes. A questão transversal que me vai surgindo ao longo deste artigo é: “Mas o emprego não deveria ser um vector para tirar as pessoas da pobreza?”.

O que necessitamos afinal?

Suficiente qualidade do trabalho;

Rendimentos adequados;

Tempo de trabalho suficiente (mas não excessivo);

Segurança no emprego;

Ambientes de trabalho seguros;

Estes são alguns dos pontos fundamentais da nossa pirâmide, aliados à palavra mais referida, até agora – dignidade.

Complementarmente, não nos podemos esquecer, que o mundo registou progressos notáveis durante as últimas duas décadas, no que respeita a redução da pobreza laboral. Contudo é um caminho de necessidade, de esforços renovados. É premente que consigamos garantir condições de vida dignas, para cada pessoa e para cada família.

O trabalho digno é ao mesmo tempo um meio e um fim!

Este deve ser um dos objectivos centrais, para alcançar muitos aspectos do desenvolvimento sustentável, entre eles, a erradicação da pobreza extrema no mundo.

Este artigo serve essencialmente para pararmos e pensarmos. Será que a persistência da pobreza laboral não serve de alerta, de que o mercado de trabalho não está a cumprir plenamente o seu potencial?

Será que a existência de pobreza no trabalho não seria razão suficiente para impulsionar os decisores políticos e o mercado de trabalho a tomar medidas para formular estratégias que promovam o trabalho digno e o emprego de qualidade para todos(as)?

“A democracia e o respeito pelos direitos humanos são os alicerces de sociedades resilientes, inclusivas e pacíficas. Garantem a liberdade, promovem o desenvolvimento sustentável e protegem a dignidade e os direitos de cada pessoa.”

António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, 15 de setembro de 2023