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Desconfinar a Confiança

Artigo por Ana Leonor Baptista

Cumprimentar pessoas conhecidas, comparecer a reuniões presenciais, participar em eventos da empresa eram pequenas acções dadas como garantidas até recentemente. Com o COVID-19 surgiu também uma onda de desconfiança que subtilmente assombrou os indivíduos, sussurrando “qualquer pessoa pode estar infectada, é importante proteger os nossos e, para isso, temos de desconfiar de todos”.  O COVID-19 torna-se então no “vírus da desconfiança”.

Qual é, então, o caminho para desconfinar a confiança?

Num mundo abalado por uma pandemia global, o ecossistema laboral apresenta alterações marcadas e, com estas, também os líderes se veem compelidos a mudar. Torna-se mais evidente uma verdade absoluta: uma boa liderança é determinante para o sucesso das organizações e será determinante para reconstruir o impacto económico e social da pandemia.

Um artigo recente na Forbes refere que, num contexto pós-COVID, o estilo de liderança a adoptar é um baseado em franqueza. A empresa de consultoria Arthur D. Little conduziu uma série de entrevistas com CEOs e constatou uma tendência para transparência corporativa (e cooperativa), para que as empresas se tornem mais autênticas, mais próximas, dinamizadoras de um ambiente pró-social que valoriza questões como a empatia, a diversidade, a flexibilidade. Numa sociedade em transformação que está cada vez mais focada na tecnologia e na inovação artificial, proteger e fortalecer valores mais humanos e investir na comunicação e compreensão interpessoais são características que podem fazer a diferença na forma como cada indivíduo vive o seu trabalho e se ajusta a uma sociedade em pandemia.

“(…) colaboradores que encontram uma cultura organizacional em que o estilo de liderança é pautado pela honestidade e é livre de ambiguidade, apresentam maior estabilidade psicoafectiva e robustez cognitiva e executiva, maiores níveis de satisfação com o trabalho e, consequentemente, melhores desempenhos “

Do ponto de vista neuropsicológico, colaboradores que encontram uma cultura organizacional em que o estilo de liderança é pautado pela honestidade e é livre de ambiguidade, apresentam maior estabilidade psicoafectiva e robustez cognitiva e executiva, maiores níveis de satisfação com o trabalho e, consequentemente, melhores desempenhos. Estes locais de trabalho, ao fomentarem uma cultura de transparência, tornam-se em contextos mais seguros, estruturados e previsíveis o que, por sua vez, reduz a ansiedade e a incerteza nos colaboradores, facultando um enquadramento que promove saúde no trabalho. Pessoas com funções de direção, coordenação ou gestão que assumem com os seus trabalhadores um padrão comunicacional que é consistente, confiável, receptivo e baseado em factos contribuem para a coesão organizacional e para que os trabalhadores depositem nos seus líderes mais confiança. Um bom líder é aquele que não receia a abertura ou a cooperação na tomada de decisão organizacional, pois não vê na partilha de competência a minimização do seu papel – pelo contrário, encontra na cooperação o empoderamento (e, com este, o sucesso).

O compromisso com a honestidade, embora benéfico na sua matriz, deve ser pensado com cautela e deve ser planeado, para não ser confundido com uma excessiva permissividade que em nada contribui para a saúde das organizações. É fundamental que exista sensatez, equilíbrio, flexibilidade e atenção aos resultados (de forma a fazer ajustes aos processos). Costuma dizer-se que “a confiança conquista-se” e é nesta conquista que os líderes devem demostrar a sua humanidade e transparência de forma assertiva e com segurança – sem positivismos excessivos mas, ao invés, com um realismo esperançoso. Um líder tem tanto sucesso quanto os seus colaboradores, e colaboradores que se sintam ligados e confiantes na sua organização e na sua chefia serão mais empenhados e mais comprometidos. É importante que em plena pandemia da desconfiança se encontre um espaço de segurança nas estruturas organizacionais pois são estas o motor da sociedade, a quem cabe a reconstrução do que se fragmentou e se perdeu.