Artigo por Ana Sofia Nobre
A crise pandémica em que actualmente vivemos tem mudado de forma profunda o modo como nos relacionados, como convivemos e as nossas rotinas nas mais variadas áreas das nossas vidas. À boleia desta pandemia, mergulhámos de forma rápida, num processo urgente de mudança, levando-nos a fazer um caminho, enquanto pessoas/ Psicólogos/as em contrarrelógio, num contexto de proximidade distante, em direcção a um futuro também ele pouco previsível.
A certeza da incerteza cria-nos uma necessidade de nos adaptarmos rapidamente a novas formas de trabalho, olhar de frente para novos problemas complexos, estar aberto e contribuir para novas soluções. Partir dos nossos conhecimentos e da evidência científica, das nossas experiências já existentes e encontrar novas formas de intervenção psicológica em diferentes contextos, contornando os obstáculos criados pela COVID-19.
Nesta realidade, torna-se essencial dar destaque ao equilíbrio entre as hard-skills (competências técnicas) e as soft-skills (competências de relação e interacção baseadas na inteligência emocional, que se desenvolvem ao longo das nossas vidas, nos mais variadíssimos contextos).
“(…) a alteração mais evidente, e que gostaria de destacar, prende-se com a valorização da Criatividade […] que em 2020 é considerada como uma das competências mais importantes para o mercado de trabalho. Esta “subida” remete-me para uma questão: Qual o papel da criatividade e a importância da mesma no desempenho das nossas funções enquanto Psicólogos/as? “
De acordo com o Fórum Económico Mundial, o “Top 10” das competências mais valorizadas no mercado de trabalho em 2020 são: 1) Resolução de Problemas Complexos; 2) Pensamento crítico; 3) Criatividade; 4) Gestão de pessoas; 5) Capacidade de coordenar-se com os outros; 6) Inteligência emocional; 7) Tomada de decisão e discernimento; 8) Orientação para o serviço; 9) Negociação; 10) Flexibilidade cognitiva.
Esta projecção, muito embora realizada num período em que no nosso vocabulário não constava a palavra COVID-19, à luz dos nossos dias continua a fazer todo ou mais sentido. Quando comparado com a listagem de competências mais valorizadas pelo mercado de trabalho em 2015, a alteração mais evidente, e que gostaria de destacar, prende-se com a valorização da Criatividade, que ocupava em 2015 a 10ª posição e que em 2020 é considerada como uma das competências mais importantes para o mercado de trabalho.
Esta “subida” remete-me para uma questão: Qual o papel da criatividade e a importância da mesma no desempenho das nossas funções enquanto Psicólogos/as?
Sabemos que a criatividade não é do domínio específico das profissões artísticas e que não é uma competência exclusiva a génios como o Einstein ou o Leonardo Da Vinci, resulta da necessidade de novas formas de ser e agir, logo trata-se de uma competência transversal a todos nós.
O desenvolvimento da criatividade está relacionado com várias dimensões. Como o contexto, com aspectos relacionados com a personalidade, como por exemplo, vontade para ultrapassar obstáculos, assumir riscos de forma sensata, tolerar ambiguidades. Com competências cognitivas, por exemplo, a flexibilidade, a imaginação e a visualização. Envolve também a capacidade de ver os problemas de novas formas, afastando-se dos constrangimentos de um pensamento convencional.
Na hora de resolver problemas, é através do pensamento criativo que identificamos na nossa prática diferentes caminhos, diferentes soluções, o que nos permite enquanto Psicólogos/as, em momentos de crise, como a que vivemos, trazer alternativas singulares para a nossa prática profissional.
Todos/as os/as Psicólogos/as, sem excepção têm, na sua prática, utilizado as limitações com as quais se têm confrontado como ponto de partida para a criatividade e é através deste esforço colectivo que surgem grande soluções para grandes problemas, permitindo que a Psicologia continue a assumir o seu papel na promoção, manutenção de saúde e desenvolvimento positivo dos cidadãos.