PsiCarreiras

logo-psicarreiras
Blog

Coragem para mudar: Encontrar um Propósito na Carreira

Artigo por Rodrigo Dumas Diniz

Quando era criança, não sabia o que responder à inevitável pergunta dos adultos: “O que queres ser quando fores grande?” — Era um quebra-cabeças, uma provocação à minha compreensão ainda imatura das profissões.

Crescer fez-me ver as coisas de outra perspectiva: não se tratava de uma simples escolha entre ‘isto’ ou ‘aquilo’: entre a profissão A ou B. Para responder, entendi, era necessário encontrar um equilíbrio entre o que me inspirava, o que me motivava e, não menos importante, o que era realmente bom a fazer.

Esta compreensão não foi imediata; desenvolveu-se pouco a pouco, à medida que a mudança se tornava uma companheira inevitável de percurso. Os meus primeiros empregos trouxeram-me aprendizagens importantes, deram-me competência, mas deixaram um vazio onde deveria morar um propósito. “Será que isto é suficiente?” – comecei a questionar-me.

Lembro-me claramente do momento em que decidi dar os primeiros passos como psicólogo. Depois de anos a trabalhar numa área completamente diferente, era como se estivesse a abandonar o conforto do familiar para me aventurar no desconhecido. A ideia de deixar para trás o que tinha conseguido até então trazia consigo uma certa hesitação. E, como se um desafio não bastasse, surgia a pandemia, imprevisível, alterando o que pensávamos ser inalterável.

“Nem todos os que procuram um novo caminho estão desorientados. Por vezes, é na procura que encontramos a direcção.”

Três anos, foi o tempo que passou desde que o assunto principal deixou de ser a natureza da minha profissão, para procurar o momento certo para mudar. Hoje, como alguém que recorre ao retrovisor para entender a estrada percorrida, reconheço que as decisões – certas ou erradas – foram passos que me conduziram até aqui.

Destas mudanças, retirei três lições valiosas sobre como aceitar os momentos em que tudo é passageiro e onde não existem respostas imediatas:

(1) A vida profissional é um processo de aprendizagem contínuo.

Quando sentimos menos entusiasmo em aprender coisas novas, pode ser um sinal de que chegou o momento de procurar novas experiências. Esta procura não deve ser motivada apenas pelo desgaste, mas também pela capacidade de identificar o momento certo para a mudança.

(2) O desconforto temporário não deve ser um obstáculo à progressão.

A mudança significa, muitas vezes, começar do ‘zero’. É normal sentir algum desconforto inicial, seja na forma de diminuição salarial ou na falta de reconhecimento. No entanto, evitar o desconforto pode ser tão prejudicial como tomar a decisão errada. Aqui, podemos ouvir duas vozes: a da nossa intuição e a de pessoas que já passaram por situações semelhantes. Graças às redes sociais e à tecnologia, hoje é mais fácil que nunca comunicar com novas pessoas. Porque não tentar um: “Estou a ponderar uma transição para a área X da Psicologia. Vejo que tem experiência em X, teria cinco minutos para conversarmos?”. A iniciativa e a curiosidade atraem pessoas dispostas a oferecer bons conselhos.

(3) Mudar não significa necessariamente dar um salto em queda livre.

Por vezes, é como semear uma semente e esperar, com paciência, pelo seu crescimento. Se ainda não for o momento certo para dar o salto, considere outras opções: Voluntariado, job shadowing, ou estágios numa nova área podem oferecer a possibilidade de descobrir em primeira mão se realmente gosta do que procura. Ao embarcares nesta nova viagem, não te esqueças de levar a bagagem do que aprendeste nas experiências anteriores. Estas competências e experiências serão certamente úteis nesta nova fase e tornarão a transição mais suave.

O que queres ser agora que és adulto/a?

No fim de contas, qualquer que seja a mudança que procuramos, é essencial lembrar que há sempre espaço para recomeçar e aprender com os erros. Há sempre uma oportunidade para tentar algo novo, seja em pequena ou grande escala. Voltando à ideia de equilíbrio: quando alinhamos as nossas paixões e competências, abrem-se portas para um percurso único e diversificado, onde cada experiência contribui para o todo. Para isso, é preciso estar disponível para novas experiências, pronto/a para aprender e correr riscos.

Lembra-te que a viagem é tão importante quanto o destino. Nas palavras de J.R.R. Tolkien, “Nem todos os que vagueiam estão perdidos”. Eu acrescentaria: Nem todos os que procuram um novo caminho estão desorientados. Por vezes, é na procura que encontramos a direcção.