Artigo por Ana Leonor Baptista
Um estágio é um período definido de formação e aprendizagem de uma prática profissional em contexto real de trabalho. Normalmente, os estudantes de Psicologia passam por um estágio curricular e, a fim de se tornarem membros efectivos e poderem exercer a profissão de Psicólogo/a em Portugal, realizam também o ano profissional júnior, que corresponde a um estágio profissional, supervisionado, que decorre ao longo de um ano.
Este cariz “transitório” do estágio, nomeadamente do estágio profissional (ano profissional júnior) faz muitas vezes com que os/as futuros/as profissionais o encarem como uma stepping stone, uma etapa no caminho a percorrer para ter emprego, uma pequena paragem, e não como algo que é um fim em si. De facto, um estágio pode constituir-se uma oportunidade incrível para um/a futuro/a Psicólogo/a – pode apoiar tomadas de decisão relacionadas com a carreira, pode contribuir para a exploração vocacional, pode ajudar a criar uma rede de contactos, entre muitos outros benefícios (que se tornam difíceis de identificar quando o posicionamento do estagiário/psicólogo júnior é o de o encarar como uma etapa a ser ultrapassada rapidamente para chegar a outro sítio).
“Quando tiramos o melhor partido possível desta oportunidade, estamos a dar passos para construir uma carreira mais significativa, com mais alinhamento entre quem somos, o que fazemos e o nosso contributo para as entidades e para a sociedade.”
Como é que se pode tirar o máximo de partido de um estágio e, simultaneamente, contribuir para que o mesmo seja parte integrante, estruturante e significativa no começo de uma carreira na Psicologia?
- Ver mais além
Parece básico, mas é importante recordar: todos os estagiários podem ir para além do esperado e do solicitado, tal como todos os estudantes podem ler mais do que o material obrigatório de uma determinada disciplina. Ou seja, se enquanto estagiário/psicólogo júnior é esperado de mim um determinado papel/atitude/tipo de tarefa, eu tenho a liberdade de perceber o que posso ir procurar mais informação, posso disponibilizar-me para outro tipo de tarefas, posso e devo cultivar-me ao máximo durante este momento de aprendizagem, rentabilizando o meu tempo de estágio.
- Não gostar do estágio também é positivo
Já ouvi inúmeros relatos de psicólogos júnior/estagiários curriculares de Psicologia que, cabisbaixos, partilham “não gostei nada desta experiência”/ ”esta sempre foi a área que quis seguir e agora que experimentei percebi que afinal não é para mim”… Isto é muito bom! Não ter gostado de determinada experiência só contribui para nos aproximar mais daquilo que efectivamente possamos gostar – ajuda-nos a, daí para frente, eliminar essa parte da realidade, ajuda-nos a ter pistas sobre que aspectos concretos são (e quais os que não são) do nosso interesse, ajuda-nos a ter uma noção mais realista dos contextos de trabalho e das áreas da Psicologia, e ajuda-nos a preparar um futuro mais alinhado com a pessoa e profissional que somos. Quanto mais cedo percebermos “isto não é para mim”, melhor!
- Fazer um registo de tarefas e actividades
Todos os momentos de estágio vão ter momentos de aprendizagem importantes: desde o primeiro contacto telefónico com outros colegas de uma rede de trabalho, à primeira administração de um instrumento de avaliação psicológica, à primeira consulta, ao primeiro processo de recrutamento e selecção que acompanhamos do início ao fim – independentemente do que seja, o contexto real de trabalho permite sempre a aquisição de conhecimentos e competências que são diferentes dos aprendidos em sala de aula, durante a faculdade. Uma sugestão, é registar as tarefas realizadas e competências adquiridas na mesma – este registo vai ser importantíssimo para incluir na descrição da nossa experiência de estágio no CV ou no linkedin!
- Pedir feedback
Fazer perguntas, procurar feedback – um estágio é sempre um momento de aprendizagem. É esperada uma progressiva autonomização mas não é esperado que o estagiário ou psicólogo júnior saiba tudo! Por isso descobrir em que podemos melhorar, o que podemos fazer diferente é muito valioso para o desenvolvimento do futuro profissional (além disso, se há algum momento da carreira em que os erros são ultrapassáveis e não devastadores, é agora!).
- Networking
Faz todo o sentido aproveitar uma experiência de estágio para conhecer colegas e criar/potenciar a rede de contactos. Uma dica que daria a qualquer psicólogo júnior/estagiário curricular é mesmo a de não perder oportunidades de conviver com colegas em momentos sociais e apropriados, participando em eventos da organização ou indo com colegas a encontros/workshops/eventos formativos da área da Psicologia em que estou a trabalhar.
Um estágio pode ser muito mais do que a tal stepping stone para chegar a um destino. Quando tiramos o melhor partido possível desta oportunidade, estamos a dar passos para construir uma carreira mais significativa, com mais alinhamento entre quem somos, o que fazemos e o nosso contributo para as entidades e para a sociedade.