Artigo por Joana Almeida Monteiro
Este é um dos problemas de quem está activamente a procurar uma oportunidade (de emprego, de apresentação do seu projecto, …): conseguir que os seus e-mails sejam lidos.
A ausência de resposta a uma candidatura ou contacto proactivo é uma frustração: ou nem sequer viram o que enviámos, ou viram mas não foi interessante/impactante/pertinente o suficiente para suscitar uma resposta. Ficamos sem saber.
Mais do que ficarmos na frustração, nos queixarmos do nosso “azar“, cabe-nos pensar o porquê de tal estar a acontecer; afinal, é isso que está ao nosso alcance.
Conforme anteriormente já vimos, às vezes isso acontece porque quem recebeu a nossa comunicação não a esperava ou desejava. Mas não será apenas por isso…
“A ausência de resposta a uma candidatura ou contacto proactivo é uma frustração: ou nem sequer viram o que enviámos, ou viram mas não foi interessante/ impactante/ pertinente o suficiente para suscitar uma resposta. Ficamos sem saber. Mais do que ficarmos na frustração, nos queixarmos do nosso “azar”, cabe-nos pensar o porquê de tal estar a acontecer; afinal, é isso que está ao nosso alcance.“
Adam Grant, um psicólogo americano da área das organizações que escreveu vários bestsellers relacionados com assuntos como a motivação, a criatividade e a carreira, vendo-se sem capacidade de resposta a uma enxurrada inesperada de e-mails (que, paradoxalmente, recebeu devido à sua fama de pessoa sempre disposta a dar resposta), sentiu necessidade de pensar sobre isto. Afinal o que nos leva, perante tantos e-mails, a ler e responder a alguns e não a outros?
Eis então algumas possíveis pistas que identificou (e que passo a enquadrar como podem ser encaradas de forma estratégica quando estamos a abordar o mercado de trabalho):
- Escolha um bom assunto de e-mail. Apele ou à curiosidade de quem o recebe, ou à utilidade para o receptor. Se essa pessoa estiver com tempo livre, a curiosidade será o que mais possivelmente a move; se estiver muito ocupada então a potencial utilidade daquele e-mail inesperado pode ser o que lhe permite reservar algum tempo para o abrir e ler.
- Torne evidente porque é que está a contactar aquela pessoa especificamente. Não só é importante, para quem lê, sentir que não é “só mais um qualquer a receber um e-mail padrão”, mas também ajuda desde logo o leitor a situar o que poderá ser esperado dele.
- Mostre que se preparou convenientemente e fez o seu “TPC”. Isto é, não apenas mostrar que se deu ao trabalho de ler sobre a entidade e demostrar que a conhece, como também enquadrar isso na pertinência do seu contacto. Um exemplo de que isto não foi tido em atenção: enviar um e-mail com uma candidatura para uma empresa que, no seu website, tem indicado local para submissão da mesma numa plataforma.
- Seja directo, específico e gentil na abordagem e objectivo do contacto. Se o seu objectivo é que lhe seja concedida uma reunião para apresentar o seu projecto, não deve encher o e-mail de detalhes; enquadre o âmbito e pertinência e, de forma educada, sugira o agendamento de uma reunião com o que pretende que seja nela tratado.
- Demonstre a sua gratidão (genuína!). Fará toda a diferença na motivação de quem recebe um email ser brindado no final com um “aguardo resposta” (que parece, friamente, exigir uma resposta) ou com um “teria todo o gosto em falar consigo para trocarmos impressões sobre este assunto” (que é uma abordagem suave, que apela a um contacto cordial e eventualmente interessante para ambas as partes).
Conforme partilhei anteriormente, uma vez recebi um contacto (não por e-mail, mas na inbox do LinkedIn) por parte de uma colega, Psicóloga, em início de carreira. Pedia-me uma entrevista exploratória através de uma reunião online. Com todo o gosto acedi. O que me fez considerar esse contacto com especial atenção? Foi um contacto personalizado, dirigido a mim apenas, mostrando que tinha visto o meu percurso e identificado nele aspectos que gostaria de conhecer melhor. Era um contacto cordial e que não me pressionava, deixava-me com curiosidade de também saber mais sobre esta colega. A mensagem evidenciava ainda algo que me levava a antecipar o gosto que me daria (e deu!) falar com ela: o interesse em comum que tínhamos sobre psicologia vocacional e aconselhamento de carreira.
Não sou o Adam Grant e até nem recebo contactos em demasia deste género, mas sem dúvida que um contacto indiferenciado não me motivaria a investir cerca de 1h de conversa com um estranho, a partilhar experiências e dicas, a manter contacto posterior.
Partilho esta minha reflexão e experiência porque creio que pode ser esta a chave para sermos mais bem sucedidos nas nossas abordagens ao mercado de trabalho e no estabelecimento de relações profissionais. A intencionalidade, a preparação, a empatia por quem recebe as nossas investidas são pontos-chave nesta “dança”.
Grant, A. (2013). 6 Ways to get me to email you back. Disponível em https://www.linkedin.com/pulse/20130624114114-69244073-6-ways-to-get-me-to-email-you-back/ (consultado a 06/04/2022).