Artigo por Marta Alves
Planear a carreira não significa apenas planear o percurso profissional, pois enquanto indivíduos que influenciam e são influenciados por diferentes contextos, aquilo que ambicionamos para o nosso papel profissional é influenciado e influencia outros papéis da nossa vida. Daí ser tão importante o auto-conhecimento, pois quanto maior a consciência de mim, melhor eu consigo perceber o que me caracteriza, quais são as minhas crenças, o que me realiza, os meus valores, as minhas necessidades, as minhas expectativas, etc.
Tomando como analogia uma viagem, se eu quero conhecer uma determinada cidade e tirar dessa visita o máximo de proveito, eu tenho de reflectir acerca do que procuro com essa viagem: cultura? Bons restaurantes? Tirar boas fotografias? Descansar? Usufruir da cidade ou da natureza? Para chegar a essa cidade, quanto tempo quero perder na viagem? Quanto quero gastar? Quero ir sozinha/o ou com quem quero ir? Assim, também na carreira, “a cidade que vou escolher e o que lá vou ver”, ou seja, os meus objectivos, têm de estar intimamente relacionados com aquilo que eu sou e com aquilo que realmente quero e necessito. Depois tenho que perceber se a viagem a essa cidade é possível financeiramente para mim, se me permite conciliar com a família, com o meu trabalho ou com os meus estudos, se existe alguma regulamentação especifica para a entrada nessa cidade, se estou em condições físicas de fazer o que me proponho, entre outros factores. Actualmente, até preciso de mais: preciso de saber se me posso deslocar para fora da minha cidade, se é necessário fazer teste COVID, se tenho que fazer quarentena… Isto é, tenho ainda uma outra variável importante – o contexto – que vai influenciar a minha viagem, o seu planeamento e organização. Também ao nível da carreira, o que planeamos relativamente ao trabalho/emprego é decidido em conjugação com outros papéis da nossa vida, como a família, a nossa saúde, as finanças, o lazer, entre outros.
“(…) a gestão de carreira é uma gestão pessoal de carreira, pois tem em linha de conta o que eu sou e o que eu pretendo para mim, tendo também em consideração os meus vários papéis de vida e o meu contexto.”
Por isto, a gestão de carreira é uma gestão pessoal de carreira, pois tem em linha de conta o que eu sou e o que eu pretendo para mim, tendo também em consideração os meus vários papéis de vida e o meu contexto.
Não retirando a devida importância aos nossos objectivos de carreira, não será mais importante o bem-estar que experienciamos no caminho que vamos fazendo em seu alcance? Uma coisa é certa, se os objectivos do meu plano de carreira estiverem alinhados com as minhas características, expectativas e necessidades, à partida proporcionar-me-ão maior motivação e bem-estar ao longo do trajecto para os alcançar. Por outro lado, se o meu bem-estar, a minha saúde mental estiver de alguma forma comprometida, serei capaz de elaborar objectivos e planos de carreira devidamente? Certamente haverá algum condicionamento que é importante explorar.
De um ponto de vista das áreas da psicologia, estaremos a falar das áreas da Psicologia Clínica e da Saúde e da Psicologia da Educação, em particular da Psicologia Vocacional e do Desenvolvimento da Carreira, que tal como acontece com as outras áreas da Psicologia, não são “estanques”, mas sim que comunicam e se relacionam entre si.
“Sendo a Psicologia uma ciência que tem como objecto o estudo das pessoas nos seus diversos contextos, sendo o seu principal instrumento de intervenção a relação interpessoal, resulta como natural o reconhecimento que profissionais diferentes tenham características diferentes, pelo que cada um deverá ter consciência das suas necessidades específicas, sendo o próprio o melhor juiz da sua competência. Este pressuposto, para além de aumentar a responsabilidade dos/as psicólogos/as, chama a atenção para a dificuldade do controlo formal dos níveis de competência de cada um dos membros da profissão. Por isso mesmo, independentemente da importância da regulação do acesso à profissão através de um controlo rigoroso da formação, a consciência individual de cada um é condição central para o bom desempenho da actividade.” (Código Deontológico da Ordem dos Psicólogos Portugueses, in Principio B – Competência)