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Amigos, amigos… (nem sempre com) negócios à parte: O poder da amizade no contexto profissional

As relações sociais são parte fundamental da condição humana, sendo a amizade uma das dimensões mais importantes da vida de cada pessoa. E no contexto de trabalho não é diferente.

À medida que os anos passam e com a natural progressão na carreira profissional, damos por nós a passar mais tempo no ambiente de trabalho do que aquele que despendemos na nossa vida pessoal. Isto porque, regra geral, as horas de trabalho tendem a aumentar progressivamente em detrimento do tempo de lazer, que se vai tornando mais escasso. Este facto influencia inevitavelmente a formação e o fortalecimento dos vínculos afectivos criados em contextos profissionais. Quando pensamos nas muitas horas que passamos no nosso trabalho, torna-se claro que as amizades que formamos nesse contexto, acabam por ter um papel bem mais profundo do que o de simplesmente partilhar a rotina laboral.

Os colegas de trabalho tornam-se, na maioria dos casos, os nossos companheiros de jornada, os nossos parceiros em tarefas exigentes e desafiantes e, muitas vezes, verdadeiros amigos.

Quando compartilhamos com alguém um espaço ou uma sala, um departamento ou secção organizacional, as conversas sobre trabalho acabam por se transformar em algo mais profundo. É aí que os interesses partilhados entram em cena e as conversas tomam outros rumos acabando por fugir ao teor exclusivamente profissional.

O próprio relacionamento interpessoal entre o líder e os membros da equipa é um dos factores mais relevantes na facilitação ou bloqueio de um clima de confiança, respeito e afecto, que possibilita relações de harmonia e cooperação.

A amizade em contexto profissional representa um laço afectivo entre colaboradores, baseado, acima de tudo, na confiança, no respeito e na cooperação, acabando por ir mais além das relações profissionais, abrangendo interesses e valores pessoais, e objectivos comuns.

A evidência científica demonstra que as relações sociais são a característica do local de trabalho, de um total de doze, que mais influencia a satisfação profissional.

A descoberta de que cada um de nós, a par de cada colega de trabalho, funciona em prol de objectivos semelhantes, pode ser o primeiro grande impulsionador para uma relação de maior empatia interpessoal. À medida que se enfrentam desafios comuns e se encontram soluções em conjunto, o sentimento de confiança mútua aumenta e o apoio recíproco entre pares acaba por ser transportado para a esfera pessoal. Deste modo, um ambiente de trabalho que inicialmente começou por ser “sério” e de alguma contenção nas interacções, acaba por dar lugar a um ambiente bem mais descontraído, onde a colaboração flui sem esforço, o que contribui para uma clara melhoria do clima organizacional. A comunicação torna-se mais aberta e transparente, contribuindo para uma maior eficácia no desempenho laboral. As equipas tornam-se mais produtivas, para além de que a amizade bem cultivada no local de trabalho, acaba por ter uma forte influência na redução do stress laboral. Quando se pode compartilhar desafios, dilemas e frustrações com alguém que entende claramente essa situação, porque a vive de perto, o stress e a pressão diminuem.

Num mundo onde o equilíbrio entre vida pessoal e profissional é cada vez mais desafiador, a criação de amizades no contexto profissional pode, assim, fornecer uma rede de apoio crucial, contribuindo para um aumento da satisfação geral no trabalho e para a promoção de um maior sentido de pertença. 

É relevante cativar essas amizades com sensibilidade, mantendo um equilíbrio saudável entre as esferas pessoal e profissional, pois à medida que construímos laços afectivos no contexto profissional, não apenas melhoramos as nossas rotinas, como enriquecemos também as nossas trajectórias de carreira, podendo ser um trampolim para o sucesso profissional. 

Os benefícios resultam tanto para os colaboradores, como para a própria organização onde trabalhamos:

1º – Aumento da motivação e da produtividade;

2º – Melhoria do clima organizacional e da comunicação;

3º – Diminuição do stress e do absentismo;

4º – Retenção de talentos – qualquer colaborador que se sinta valorizado e que mantém relações saudáveis entre os seus pares, tende a ser mais leal e comprometido para com a sua organização.

No entanto, apesar de todos os benefícios enumerados, importa salientar que é obviamente necessário haver um equilíbrio.

As amizades cultivadas no contexto profissional não estão isentas de desafios, como, por exemplo, a falta de “consciência dos limites” ou o risco de favoritismo”, pelo que se revela importante saber separar a relação pessoal do ambiente profissional, mantendo a imparcialidade e a ética profissional, evitando naturalmente os conflitos de interesse por forma a preservar um ambiente equitativo e justo. Saber lidar com os conflitos e, nalguns contextos, com alguma competitividade que possa surgir entre amigos ou com outros colegas, é crucial. A assertividade, a comunicação directa e transparente, o cuidado para não interferir com os limites do outro, são essenciais para solucionar mal-entendidos e manter um ambiente saudável. Do mesmo modo, é fundamental aceitar e respeitar as diferenças de opinião, de personalidade ou de cultura, sem impor visões ou julgar escolhas alheias.

É, por isso, importante priorizar a qualidade, em vez de quantidade, no contexto de amizades no ambiente de trabalho. A amizade cultivada no contexto profissional pode desempenhar um papel crucial no bem-estar dos colaboradores, criando um impacto positivo no desempenho individual e na atmosfera organizacional, contribuindo positivamente para a carreira. Mas se criar relações de amizade, em equilíbrio, pode ser positivo, manter as relações com os colegas de trabalho fora da esfera pessoal, não significa que seja necessariamente negativo.

É essencial compreender os desafios, por forma a se saber cultivar relações saudáveis e produtivas no contexto profissional.