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A saúde psicológica dos estudantes de ensino superior

Desafios, mudanças, autocuidado e relações de qualidade

Actualmente, há mais de 430 mil estudantes de ensino superior nas instituições de ensino superior portuguesas. O ajuste à vida universitária, bem como a fase de transição que se segue a um percurso académico – a entrada no mercado de trabalho – são momentos cruciais do ciclo de vida dos estudantes/futuros profissionais que acarretam desafios únicos, os quais podem ter impacto na saúde psicológica de cada um.

Alguns dos problemas mais comumente associados aos estudantes de ensino superior têm a ver com o stress académico (exigências académicas, ambiente competitivo, pressão para alcançar determinadas métricas, cumprimento de prazos), a ansiedade e depressão (psicopatologias mais comuns entre os estudantes universitários portugueses), o isolamento (por vezes o começo de um percurso universitário implica a mudança para uma nova cidade e consequente distanciamento da família e amigos). Quando se fala na transição para o mercado de trabalho, novas questões emergem: a insegurança sentida relativamente ao futuro “eu profissional” (como é que o estudante se vai adaptar a um novo papel de profissional?), o desequilíbrio sentido entre a procura e a oferta de emprego, o “choque” entre expectativas e realidade, a assunção de novas responsabilidades (pessoais, sociais, profissionais) e crescente autonomia, a ansiedade financeira, entre muitas outras.

A saúde mental, entendida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como um “estado de bem estar no qual o indivíduo é capaz de usar as suas próprias capacidades, recuperar-se do stress associado ao seu dia-a-dia, ser produtivo e contribuir para a sua comunidade (…) a saúde mental implica muito mais do que a ausência de doença”. Ter saúde psicológica simultaneamente diz respeito à forma como pensamos, sentimos, avaliamos situações, tomamos decisões e nos relacionamos com os outros.

Já há séculos atrás, Luís de Camões comentava a “constância” da mudança em “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades (…) todo o mundo é composto de mudança / tomando sempre novas qualidades”. Também este factor da existência mudanças e disrupções cada vez mais frequentes e o consequente forcing à adaptação de cada indivíduo a ciclos de aprendizagem cada vez mais curtos tem um papel na percepção de instabilidade global, que pode reflectir-se também na saúde mental dos estudantes. Os factores contextuais, associados aos desafios individuais de cada um criam um cocktail exigente que requer gestão e atenção. Para os estudantes de Psicologia, estas questões ganham ainda mais dimensão – um/a futuro/a psicólogo/a necessita de um olhar duplamente atento e contentor relativamente à sua saúde psicológica – não faz sentido olhar para fora sem olhar, primeiro, para dentro. Os/as psicólogos/as não deixam de ser pessoas e, conforme se reflectiu no PsiCarreiras On Summit 2023 (“Autocuidado na gestão pessoal de carreira em Psicologia”), “os psicólogos às vezes também querem colo”, querem ser acolhidos nas suas emoções e vivências. Um/a psicólogo/a, para realizar um trabalho de qualidade (em qualquer área) necessita de ser capaz de estabelecer uma relação de qualidade (Coimbra de Matos, 2011). Esta é a relação que produz desenvolvimento, e é nela e por ela que o processo de mudança ocorre. Quando não há autocuidado, investimento, (auto)desenvolvimento (pessoal/profissional), torna-se difícil ter qualidade na relação com o outro.

Estabelecer rotinas equilibradas (desde a alimentação, ao sono, ao lazer), ter práticas de autocuidado, procurar ajuda profissional sempre que necessário, nutrir e manter as relações interpessoais (a rede de apoio), comunicar, auto e hetero-investir são práticas importantes para cuidar a saúde psicológica e para melhor gerir os desafios da vida académica e da transição. Ter qualidade na nossa relação com o próprio e com o outro será basilar para identificar as próprias necessidades, gerir melhor os desafios, tomar melhores decisões, pensar e sentir com crítica, ética e sensibilidade e, no fundo, criar assim mais recursos internos para promover a saúde psicológica.

A OPP disponibiliza ainda estes recursos:

  • Site Eu Sinto.me – um portal que reúne informação e recursos de qualidade sobre saúde psicológica e bem-estar baseados na evidência científica da Psicologia, actualizados, fidedignos, gratuitos e acessíveis a todos
  • Site Encontre Uma Saída – site com perguntas e respostas sobre o que faz (ou para que serve) um/a psicólogo/a e como encontrar um profissional em território nacional