Artigo e fotografia por Edite Queiroz
A identidade pessoal faz-se de atributos que nos diferenciam dos demais e são continuamente transformadas nas e através das relações com os outros. Nesse sentido, qualquer profissão cria modos de ser, pensar e agir, funcionando como elemento de identificação de cada um face ao Outro – no nosso caso, Ser Psicólogo. Se as vivências e características individuais são centrais na construção da identidade pessoal, a auto-imagem profissional será também basilar na definição dos valores, motivações e experiências. As bases da Identidade do Psicólogo assentam, portanto, na especificidade dos seus conhecimentos e práticas, mas também no seu percurso académico, história pessoal e significado atribuído às suas experiências – pessoais e profissionais.
“A capacidade de reflexão e análise, a abertura à diversidade e à diferença e a relação empática com o Outro são características que diferenciam os Psicólogos dos profissionais de outras áreas. Ora estas competências não se aprendem no ensino superior: São fruto do auto-conhecimento que decorre de um processo contínuo de desenvolvimento pessoal. Este denominador comum a todos os Psicólogos, independentemente da área de intervenção ou do público-alvo, confunde-se com o propósito do seu trabalho.“
É um processo idiossincrático, já que todos os Psicólogos são diferentes. Mas todos praticam uma ciência de natureza complexa, que funciona em relação e tem por matéria o ser humano, as suas crenças, valores, emoções e demais elementos da subjectividade humana. É este, por excelência, o objecto da Psicologia. A necessidade de aceitação do que é diverso implica desenvolver competências para lidar com diferentes indivíduos e grupos, bem como de reflexão e pensamento crítico, por forma a actuar com integridade e justiça, salvaguardar crenças pessoais e prevenir a sua interferência na prática profissional. Implica ainda manter o olhar no horizonte: Ser permeável ao momento histórico, estar atento a novas necessidades da própria profissão, responder-lhes com disponibilidade curiosa – por exemplo, sem dúvida que a actual pandemia de COVID-19 é determinante para a Psicologia: Representa um enorme desafio para a intervenção dos Psicólogos e exige de cada um a disponibilidade para sair da sua zona de conforto, transformando, ampliando ou adaptando a sua forma de intervenção.
É por isso indiscutível que a identidade do Psicólogo emerge não apenas da sua formação e prática, mas dos seus traços e atributos. A capacidade de reflexão e análise, a abertura à diversidade e à diferença e a relação empática com o Outro são características que diferenciam os Psicólogos dos profissionais de outras áreas. Ora estas competências não se aprendem no ensino superior: São fruto do auto-conhecimento que decorre de um processo contínuo de desenvolvimento pessoal. Este denominador comum a todos os Psicólogos, independentemente da área de intervenção ou do público-alvo, confunde-se com o propósito do seu trabalho, no sentido em que o objectivo último da Psicologia não é outro senão o de promover o auto-conhecimento, a capacidade de adaptação e a mudança cognitiva e comportamental.
O momento da escolha do curso é muitas vezes marcado por demasiadas certezas e por uma certa idealização da Psicologia. Ao longo do curso, surge o conflito entre o querer ser e o saber fazer; inicia-se um processo de construção de significado para a profissão e de elaboração de uma identidade que aproxima o Eu da profissão escolhida. Por fim, na transição para o contexto real de trabalho – o Ano Profissional Júnior – emergem dúvidas e inseguranças na direcção a tomar. A necessidade de adquirir ferramentas e suplementar a formação constituem um novo patamar na construção da identidade do futuro Psicólogo. É natural que seja um momento árduo, mas também de novas aprendizagens, descobertas e reatribuição de significados ao saber adquirido, que confluem nessa aproximação permanente entre o Eu pessoal e profissional e a prática da profissão: a elaboração de possibilidades de actuação, o acesso aos referenciais da profissão por via do livre-arbítrio, a apropriação de conceitos e práticas, a escolha de um caminho necessariamente dialéctico e transformador.
A Psicologia é uma viagem para a qual levamos uma bagagem incompleta, que vai sendo incrementada e transformada com a formação académica e profissional, com a experiência de trabalho e com a experiência de vida. A identidade profissional e os produtos do processo de auto-conhecimento são armas poderosas e complementares, que nos colocam, a todo o momento, numa melhor posição para a conquista do saber fazer, enquanto domínio das condições para o exercício e para a definição de um percurso de carreira.