Artigo por Pedro Gonçalves
A procura de estágio profissional pode ser bem mais angustiante do que a última temporada de Game of Thrones. Depois de anos a explorar interesses e possibilidades, a fazer frequências, trabalhos e exames, uns interessantes, outros, verdadeiras batalhas, depois de um estágio académico e uma dissertação espremida até ao último segundo de entrega, procurar exaustivamente por um estágio profissional, sem respostas de aceitação, pode apresentar-se como um plot twist amargo que não esperávamos.
Após o percurso académico, que consolida uma identidade de diplomado/a em Psicologia e ilumina a possibilidade de se vir a ser psicólogo/a, esta demora em iniciar o Ano Profissional Júnior, muitas vezes preenchida por procuras incessantes em sites de emprego e em newsletters e inúmeros currículos enviados, pode colocar em check os nossos objectivos, expectativas e ambições. Por vezes, acordamos decididos/as em procurar o estágio ideal. Outras vezes, já estamos por tudo: é o que vier.
“… reconhecer os factores externos que condicionam oportunidades pode ser um primeiro passo e, depois, num acto de experimentação, desenvolver uma proposta de projecto pode diferenciar uma candidatura a um estágio profissional.”
Para aqueles e aquelas que se encontram nesta procura incessante, reconhecer os factores externos que condicionam oportunidades pode ser um primeiro passo e, depois, num acto de experimentação, desenvolver uma proposta de projecto pode diferenciar uma candidatura a um estágio profissional. No processo de desenvolver uma proposta pragmática, no âmbito de dada área de intervenção, podemos considerar os seguintes pontos:
- Reconhecer interesses e identificar necessidades
Primeiramente, há que identificar uma área de intervenção de interesse, concreta e abrangente o suficiente para que a proposta possa ser utilizada em diferentes candidaturas (e.g. isolamento social em pessoas idosas). Escolhida a área de intervenção, podemos começar a explorar valências e objectivos das organizações que trabalham com essa população, neste caso, por exemplo, instituições comunitárias. Esta pesquisa, que pode acontecer nos sites das instituições e/ou em contactos com pessoas e profissionais, permite identificar necessidades e respostas já existentes.
- Estruturar a proposta de projecto
Identificadas as necessidades, mete-se as mãos à obra. De forma simplificada, há que definir objectivos (para quê?) considerando as evidências científicas (porquê?), há que caracterizar a população (para quem?), delinear métodos (como?), identificar recursos (o que é preciso?) e, ainda, planear a avaliação (como demonstro que resulta?). É fundamental basearmo-nos na Ciência Psicológica, procurando projectos inovadores aplicados noutros lugares (geralmente, não é necessário inventar a roda) e contactando os profissionais responsáveis – o que, inclusive, pode facilitar a construção de redes de contactos.
Se dará trabalho? Provavelmente, sim, mas poderá compensar pela distinção da nossa candidatura. Lembremo-nos que é uma proposta de projecto, não necessita de estar esculpida ao nível de La Pietà de Michelangelo, o objectivo é que quem selecciona as candidaturas possa reconhecer que temos vontade e ideias para responder a necessidades que persistem.
- Considerar eventuais barreiras
Uma das maiores dificuldades à implementação de projectos é o financiamento e os recursos que as instituições têm disponíveis. Temos de ser realistas nos recursos necessários, demonstrando que considerámos barreiras, mas que, através de determinados métodos, talvez consigamos criar respostas para que, seguindo o exemplo, as pessoas idosas se sintam menos sozinhas, com todas as implicações benéficas para a sua Saúde.
- Na candidatura, destacar a proposta de projecto
Na candidatura, além do Currículo vitae e de uma Carta de apresentação, apresentamos a nossa proposta de projecto. Pode ser importante, no assunto que identifica o e-mail, incluir o nome do nosso projecto (e.g. “CV Pedro Gonçalves + Projecto: Conta-me como foi!”). Lembremo-nos, ainda, de não levantar completamente o véu sobre todo o projecto, descrevendo, de início, os objectivos e as evidências que o sustentam. Se a candidatura avançar, teremos toda a disponibilidade em explicitar os métodos.
Certamente, é mais fácil viver com a sensação que o final televisivo de Game of Thrones foi intragável do que experienciar a frustração (e o desespero) de ter um percurso profissional suspenso indefinidamente. Neste sentido, complementar uma candidatura a estágio profissional com uma proposta de projecto pode, na prática, desbloquear oportunidades. No meio de muitas candidaturas, pode salientar-se aquela que, inesperadamente, apresenta uma proposta inovadora que responde a necessidades reais.