A nova geração de Psicólogos: Carreiras não lineares

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Artigo por Rodrigo Dumas Diniz

Uma carreira é um percurso de escolhas sucessivas. Nas gerações anteriores, a escalada ao topo era vista como a via comum de sucesso, guiada por escolhas lineares e previsíveis. As novas gerações, no entanto, parecem estar dispostas a quebrar este padrão.

Em vez de se prenderem a escolhas óbvias e caminhos pré-determinados, aventuram-se a explorar oportunidades nem sempre atraentes, nem sempre óbvias, e que não se baseiam necessariamente naquilo que já experimentaram antes. Procuram mais, talvez por perceberem que existe uma discrepância entre a promessa de trabalho ― de um mundo de oportunidades e flexibilidade ― e a realidade, por vezes dura. O foco tem mudado de ‘Qual o trabalho que se segue?’ para ‘Que novas possibilidades posso explorar?’

O problema com a ideia de escadas de carreira é que nos oferece uma só direcção a seguir, a um passo de cada vez. Este conceito de medir a trajectória profissional numa linha recta foi introduzida há mais de 100 anos, como forma de motivar trabalhadores numa era industrial. Actualmente, é claro que este modelo nada tem a ver com o mundo em que vivemos; mesmo assim, o seu legado ainda sobrevive em perguntas recorrentes nas entrevistas de emprego, como ‘Onde se vê daqui a cinco anos?’

“A verdade é que as carreiras atravessam uma transformação e assumem uma maior complexidade ― quase como um labirinto cheio de incertezas, mas também cheio de possibilidades.”

Quando reflicto sobre esta pergunta e a minha trajectória na área da Psicologia, ocorre-me algo curioso: nos últimos cinco ou dez anos, percorri diferentes áreas, desde a Forense até à Neuropsicologia, passando pela Sexologia. Descubro que as minhas escolhas não seguem uma trajectória linear, mas sim evoluem de acordo com as minhas necessidades, interesses e desafios, o que de alguma forma demonstra a riqueza e diversidade de caminhos que a Psicologia oferece. Como psicólogo, abracei vários contextos com curiosidade e aprendi com cada um deles.

O meu percurso também já incluiu mais mudanças de organização do que os meus pais tiveram juntos (ambos da geração baby-boomer). Embora esta realidade seja cada vez mais comum entre profissionais da minha geração, importa lembrar que nem sempre essas mudanças foram acolhidas livremente. Infelizmente, ainda enfrentamos incertezas e mudanças num mercado de trabalho que, por si só, obriga a carreiras pouco lineares.

A verdade é que as carreiras atravessam uma transformação e assumem uma maior complexidade ― quase como um labirinto cheio de incertezas, mas também cheio de possibilidades. No momento em que somos confrontados com escolhas profissionais, pode ser útil questionar se estas nos permitirão abrir novos caminhos ou se nos confinarão a rotas já bem conhecidas.

Se no meu texto anterior afirmei que o sucesso era uma consequência, agora acrescento que não tem um tamanho único. Trabalhamos lado a lado com quatro gerações distintas (Baby Boomers, Geração X, Millennials e Geração Z) e portanto, as nossas carreiras, lineares ou não, são tão únicas quanto nós. Somos um trabalho em constante progresso e movimento, por isso sugiro manter um sentido de direção pessoal que seja adaptável e evolua com o tempo.