Artigo por Vanessa Yan
Com a estrutura do mercado de trabalho a tornar-se cada vez mais complexa e incerta, a construção de qualquer percurso profissional está a tornar-se numa tarefa individual e exigente, com um grande foco na capacidade de adaptação a um mundo em constante mudança. Segundo Mark Savickas, a Adaptabilidade de Carreira é a capacidade de mudar para se adaptar a novas circunstâncias, envolvendo atitudes de planeamento, exploração de si e do ambiente e a competência para tomar (boas) decisões a partir das informações existentes. Outra competência essencial é a capacidade de construção de um Sentido de Identidade congruente com as próprias necessidades, interesses, valores e objectivos. Como o conceito que temos de nós próprios é um aspecto fundamental para tomarmos boas decisões, o trabalho de exploração de si mesmo é também um exercício que deve ser cada vez mais estimulado e desenvolvido ao longo de toda a vida.
“[…] se a pandemia trouxe muitas dificuldades e desafios, também trouxe oportunidades de melhoria. Como sabemos que a aprendizagem por modelagem é um modelo bastante eficaz na criação de novos comportamentos e atitudes, ouvir falar sobre os casos de sucesso, sobre as dúvidas e os desafios que os colegas psicólogos vencem e enfrentam todos os dias, pode ser muito inspirador.“
Os psicólogos, devido à sua formação e experiência, são a classe que mais preparada está para lidar com todo este manancial de conhecimento, mas nem sempre consegue usar totalmente esta vantagem em seu favor. Existem ainda alguns “tabus”, como a ideia de que existem fronteiras rígidas entre as especialidades ou o pudor em “ocupar espaço” nas várias áreas da sociedade em que a Psicologia pode e deve dar cartas. Tudo isso vai certamente ter o seu impacto na gestão das carreiras dos psicólogos, podendo desembocar numa menor capacidade para gerir a carreira de uma forma gratificante. Alguns colegas afirmam estar “perdidos” e sem soluções para avançar na profissão, muitas vezes por acharem que não têm as competências técnicas ou a experiência necessária para fazerem novas escolhas profissionais, por acharem já ser “demasiado tarde” ou “demasiado cedo”, ou por colocarem toda a responsabilidade e o controlo da sua carreira nas organizações onde trabalham, o que pode levar a comportamentos de evitamento e procrastinação e consequente insatisfação profissional.
Ainda segundo Savickas, o desenvolvimento adequado da adaptabilidade de carreira assenta sobre quatro atitudes a trabalhar: a Preocupação (capacidade de estabelecer metas, planos e objectivos para o futuro), a Curiosidade (atitude exploratória em relação a si mesmo e ao mercado de trabalho), a Percepção de Controlo (ver-se como agente responsável pela construção da sua própria carreira) e a Confiança/Autoeficácia (crença e mobilização das capacidades para lidar com adversidades e atingir objectivos). Logo, o desenvolvimento profissional e a consequente empregabilidade e satisfação no trabalho dos psicólogos pode passar por desenvolver estas atitudes. Como o fazer?
É criando pontes com colegas psicólogos e com outros profissionais, reflectindo sobre outras perspectivas, trabalhando na literacia dos que nos rodeiam e colaborando para desconstruir mitos e tabus que conseguimos promover as quatro atitudes basilares da adaptabilidade e de uma gestão de carreira bem sucedida.
E se a pandemia trouxe muitas dificuldades e desafios, também trouxe oportunidades de melhoria. Como sabemos que a aprendizagem por modelagem é um modelo bastante eficaz na criação de novos comportamentos e atitudes, ouvir falar sobre os casos de sucesso, sobre as dúvidas e os desafios que os colegas psicólogos vencem e enfrentam todos os dias, pode ser muito inspirador. Quer através de redes e grupos informais entre colegas, quer através das soluções de empregabilidade que a OPP disponibiliza, como os programas Projecta-te e Espaço OPP, as WebTalks, o podcast “O Frio é Psicológico” e também os fóruns temáticos, webinars e tertúlias que as Delegações Regionais vão organizando ao longo do ano, vamos conhecendo e aproveitando os bons exemplos partilhados para evoluirmos. Julgo que este será o caminho: dar o exemplo e apoiar/apoiarmo-nos ao longo de todo o percurso. Porque juntos vamos sempre mais longe!