Artigo por Marta Alves
“All of these lines across my face
Tell you the story of who I am
So many stories of where I’ve been
And how I got to where I am“
The Story, Brandi Carlile
“Esta ideia da existência de alguma continuidade na mudança e não apenas a ideia de um psicólogo antes e depois dessa transição, vai confluir com a importância de sermos agentes do nosso desenvolvimento pessoal e profissional de forma continuada ao longo de toda a nossa carreira“
O que pretendo abordar ao longo deste texto é a noção de continuidade que pode existir nas situações de mudança, isto é, parece-me que muitas vezes quando pensamos em mudança, somos parcos na exploração da ligação entre a mudança que estamos a impor ou que nos está a ser imposta e o que “está para trás”. Tentarei explorar esta ideia através de dois exemplos.
O primeiro exemplo tem que ver com um factor do contexto que implicou mudanças no trabalho de muitos/as psicólogos/as, que é a actual situação pandémica: uns/umas tiveram mais trabalho, outros/as viram o trabalho diminuir, outros/as tiveram que adaptar a forma como intervêm junto do seu público-alvo… No entanto, apesar deste factor altamente disruptivo em todos os nossos papéis de vida, gerador de crise e de necessidade de adaptação, não será “tudo novo”. As competências, pontos fortes e pontos fracos que tínhamos enquanto profissionais terão influenciado a forma como lidámos e continuamos a lidar com as implicações decorrentes da pandemia no nosso trabalho.
O segundo exemplo é o de um psicólogo que actua há vários anos em contexto organizacional, como trabalhador dependente, sendo responsável pela área dos recursos humanos. A dada altura pretende fazer uma mudança, trabalhar por conta própria, explorar mais a área clínica e poder trabalhar no contacto directo e individual com as pessoas, intervindo por exemplo em problemáticas como as dependências, o burnout, a depressão e a ansiedade. Neste caso, para além de aspectos relacionados com outros papeis de vida, para além do profissional, existe uma necessidade de mudança, isto é, intencionalmente este psicólogo pretende um novo contexto profissional, com maior autonomia, em que não estejam presentes alguns aspectos com os quais não se sente profissionalmente satisfeito e criar um negócio que lhe permita explorar e actuar noutras áreas de interesse. Também neste exemplo faz sentido reflectir sobre que psicólogo é este, que competências tem mais e menos desenvolvidas, que experiências vêm da sua actual situação profissional que possam fazer sentido continuar a explorar, qual a sua rede de contactos…
Esta ideia da existência de alguma continuidade na mudança e não apenas a ideia de um psicólogo antes e depois dessa transição, vai confluir com a importância de sermos agentes do nosso desenvolvimento pessoal e profissional de forma continuada ao longo de toda a nossa carreira. Isto é, de fazermos a nossa gestão pessoal de carreira ao longo de todo o ciclo de desenvolvimento profissional e não apenas quando surge uma “crise”. Desta forma, quando existe alguma transição quer normativa, quer não normativa, estaremos com maior capacidade de adaptação. Obviamente que qualquer transição implica desenvolvimento de novos recursos, implica também mudanças no que somos e no que fazemos e claro que existem transições que superamos com maior ou menor dificuldade. Não obstante, há todo um trabalho feito a jusante que nos ajudará a enfrentar transições ao longo da carreira.