– Onde nascem as nossas ideias mais brilhantes?
Foi com esta pergunta que dei início ao segundo dia do Prémio Inovação na Intervenção Psicológica – Innovation Hub, uma iniciativa OPP que premiou a inovação e a criatividade. Sob os olhares atentos de uma plateia de estudantes de Psicologia, comprometi-me a, no final do discurso, partilhar um modelo personalizado de ‘ideias inovadoras’ a cada um dos presentes.
Ao pensar na questão inicial, apercebi-me que muitas vezes esperamos por um momento iluminação súbita, um ‘Eureka!’ epifânico, que reduza a criatividade a algo simples. A realidade é, no entanto, diferente: o processo criativo é feito de idas e vindas, de um ziguezaguear de pensamentos onde as ideias crescem devagar.
Inovar em psicologia requer, antes de mais, perceber duas partes: (1) a interna, que somos nós — o que imaginamos, o que sabemos, como agimos; e (2) a externa, que é o mundo em que vivemos — o nosso ambiente, os recursos que dispomos e a cultura em que nos inserimos. Assim como apresentei naquela meia hora da passada sexta-feira, partilho hoje esses seis pontos para estimular a inovação:
1. Desafiar o convencional e combinar ideias.
A imaginação é o ponto de partida para a inovação; leva-nos a ver para além do que está à vista, a questionar as verdades que nos são servidas como inquestionáveis. No que imaginamos, há uma força capaz de transformar o mundo — não como ele é, mas como pode vir a ser. Incentivar a imaginação é cultivar uma mentalidade onde o ‘impossível’ é simplesmente algo que ainda não foi feito.
2. Utilizar o conhecimento para alavancar inovações.
O conhecimento é a base das ideias que nos levam adiante. Não basta imaginar; é necessário ter uma compreensão aprofundada do que queremos inovar. Há várias formas de criar saber: pode vir de fontes tradicionais, como as universidades, ou de fontes menos óbvias, como prestar atenção ao que nos rodeia. Acontece que, não raras vezes, falhamos em prestar atenção e, por isso, perdemos oportunidades de identificar problemas e soluções que estão mesmo debaixo dos nossos olhos.
3. Adoptar uma mentalidade aberta e orientada para a solução.
Por mais ricos que sejamos em imaginação e conhecimento, sem a atitude correcta, a inovação manter-se-á adormecida. Geralmente, quando confrontados com um desafio, comportamo-nos como se estivéssemos a resolver um puzzle, empenhados em encontrar o lugar para cada peça. Na vida, porém, se nos faltar uma peça, o puzzle fica incompleto. Os verdadeiros inovadores agem como se fossem artistas plásticos (como o Bordalo II, por exemplo): olham para tudo o que os rodeia e utilizam esses recursos. Vêem em cada problema um convite à solução. A inovação nasce desse ciclo de experimentar, falhar, aprender e, acima de tudo, persistir.
4. Criar ambientes que inspiram a inovação.
Chegados à parte exterior do nosso modelo, deparamo-nos com outra realidade: pessoas que, por não estarem num ambiente que estimule a inovação, não conseguem alcançar o seu potencial criativo. Pensemos, por exemplo, nos jardins-de-infância, com as suas cores vivas e brinquedos espalhados; um ambiente onde a imaginação não conhece limites. Transportemos agora essa imagem para as salas de aula tradicionais e para muitos escritórios típicos; Filas de mesas e cadeiras, onde a interação é vista como distração. Esta mudança de ambiente tem um efeito real na forma como pensamos e criamos. Os ambientes transmitem uma mensagem sobre o nosso papel; como nos devemos comportar.
5. Mobilizar recursos para concretizar ideias.
Os recursos são como os ingredientes de um prato – sem eles, não é possível fazer milagres na cozinha. Tentar inovar sem recursos é como tentar fazer ‘omeletes sem ovos’. Irá sempre faltar alguma coisa para começar, por isso, a melhor opção é utilizar os recursos que temos. Um dos melhores recursos intangíveis são os recursos humanos. Veja-se o caso da criação da Internet, fruto da combinação sinérgica de conhecimentos e pessoas de diferentes áreas. A inovação surge da capacidade de usar recursos limitados de maneiras extraordinárias.
6. Cultivar uma cultura que veja o fracasso como aprendizagem.
A cultura tem influência na forma como as ideias são recebidas, como o risco é percebido e como lidamos com o fracasso. Uma cultura que valoriza a inovação não tem medo de falhar. O fracasso é visto como um passo no caminho da aprendizagem. Por outro lado, uma cultura que castiga o fracasso e se agarra à “forma como sempre foi feito”, sufoca a inovação. A mudança começa em pequena escala – nos nossos grupos de trabalho, nas equipas e até em nós próprios. É com pequenos passos que se cultivam as grandes transformações.
A inovação é nada mais nada menos do que a união entre aquilo que trazemos connosco e o que recebemos do mundo. As ideias nascem de nós, mas são modeladas e alimentadas pelos contextos que nos rodeiam. Quando estes seis pontos se juntam, formam um ecossistema propicio à inovação, onde que ideias podem surgir e crescer. A melhor parte é que podemos começar por qualquer ponto, seja reforçando a nossa base de conhecimento ou partindo de uma paixão para resolver um problema. O importante é lembrar que a inovação é um processo, não um destino. E a capacidade de dar vida à inovação reside em cada um de nós.