Artigo por Vanessa Yan
“Empatia – Um dos conceitos mais difíceis de resumir… e também dos mais importantes para o exercício da Psicologia.”
Há duas semanas partilhávamos no LinkedIn do PsiCarreiras uma sugestão de definição de Empatia e pedíamos aos nossos seguidores que partilhassem nos comentários uma ideia sua sobre empatia. Muitos partilharam as suas perspectivas, no que representou uma das publicações com mais reacções e comentários.
Sendo a empatia uma espécie de “oásis” de tolerância, gentileza e cooperação numa sociedade marcada pela divisão e polarização, é gratificante perceber que é um tema que continua a apaixonar as pessoas e, em especial, os colegas psicólogos.
Pegando novamente neste tema tão antigo quanto a Humanidade e tão relevante para todos nós, mas talvez em especial para quem, como os psicólogos, lidam diariamente (numa escola, numa empresa, num centro de saúde ou num consultório privado) com as alegrias e as dores de outros (e com as suas próprias), aqui fica uma súmula das últimas descobertas sobre a “ciência da empatia”, partilhadas pela American Psychological Association (APA) no artigo “Cultivating Empathy” (Nov/Dez 2021).
O que é a Empatia
A empatia é a “super-cola” que liga as pessoas e que sustenta a cooperação e a amabilidade, motivando comportamentos pró-sociais e reduzindo comportamentos negativos como a agressão e o bullying. Mas a empatia não é um traço inato e estável, o que por si só pode ser positivo, pois permite-nos esforçar para melhorar esta competência em nós, adoptando uma mentalidade de crescimento, isto é, de melhoria/excelência contínua. E se queremos desenvolver a nossa capacidade de empatia, mais vale garantirmos que estamos a desenvolver o tipo certo.
Tipos de empatia – qual a mais adequada
Como todos sabemos, ter empatia é essencial para a prática dos psicólogos, mas como todos nós também sabemos, pode ser drenante e esgotante. Este resultado negativo, prejudicial tanto para o psicólogo como para o cliente/paciente, está associado a um tipo de empatia em que se toma uma perspectiva auto-orientada – ou seja, o clássico, pôr-nos no lugar do outro. Mas para oferecermos empatia aos outros não temos de ser “sofredores”, pois isso inclusive pode prejudicar os naturais comportamentos pró-sociais da empatia e está igualmente ligado ao burnout profissional. A empatia mais benéfica para ambos é a resposta orientada para o outro, na qual conseguimos imaginar e compreender a perspectiva e as emoções do outro, preocupando-nos de forma empática e respeitadora. É o que chamamos de compaixão, que estimula o desejo de ajudar, de cuidar, mas não de sofrer juntamente com o outro. “O objectivo não é sermos o sofredor/a, mas sim o cuidador/a”.
Como melhorar a nossa empatia
Exponha-se às diferenças e encontre o que há em comum: Estar mais atento aos outros permite-nos sentir mais cuidado e preocupação para com os seus sentimentos e experiências, mesmo quando sentimos esses outros como “diferentes” de nós (de outra comunidade, etnia, género, idade,…). Para motivar a empatia, devemos procurar as semelhanças em vez de nos focarmos nas diferenças. Quanto mais praticarmos a empatia (mesmo com personagens ficcionais, lendo e vendo obras de ficção), mais perspectivas assimilamos sem sentir que o nosso ponto de vista está a ser ameaçado. A base da empatia é a vontade de ouvir as experiências dos outros, acreditando que são tão válidas quanto as nossas – porque não temos de negar as nossas experiências para aceitar as dos outros. Como terá dito Publius Terentius Afer, dramaturgo e poeta romano, “Sou humano, e nada que é humano me é estranho” (in “Os Desafios da Terapia, Irvin D. Yalom).
Coloque questões: A “curiosidade” e o “interesse” podem ser componentes importantes da empatia. A empatia não é a capacidade inata de “ler mentes”, mas sim um esforço activo em compreender o ponto de vista dos outros. E nem sempre é fácil compreender uma dada perspectiva. Daí que questionar de uma forma curiosa e interessada seja tão relevante. Nós psicólogos e psicólogas já o fazemos nas nossas interacções com clientes, colocando questões abertas e oferecendo pistas não verbais (ex. acenar com a cabeça) para encorajar alguém a partilhar mais. Também aqui a oxitocina, a famosa hormona social e do amor, desempenha um papel importante, através deste tipo de comportamentos, como o contacto visual ou o toque. O objectivo é estimular o sentimento de ligação e de aceitação.
Compreenda os seus próprios bloqueios e questione-se: as pesquisas mostram que todos temos as nossas linhas vermelhas em termos de empatia, áreas em que temos mais dificuldade em ser empáticos. Se a dificuldade for demasiado intensa, devemos tomar consciência sobre a mesma de uma forma honesta e pedir supervisão ou ponderar reencaminhar para outros colegas. No entanto, caso nos dispusermos a tentar ultrapassar estas barreiras, é fundamental prestarmos atenção a estes padrões e tentar expormo-nos a estes, ouvindo e validando e, sobretudo, actuando como cientistas que somos, assumindo que podemos estar errados nas nossas assunções, mantendo a abertura para procurar e aprender explicações alternativas.
Partilhe o que aprendeu sobre empatia: termino com Irvin D. Yalom e com a sua ideia de que “empatia na dose certa é um traço essencial não apenas para os terapeutas, mas também para os pacientes, e devemos ajudar os pacientes a desenvolverem empatia pelos outros.” Tendo em mente que os clientes/pacientes geralmente procuram apoio para desenvolver e manter relacionamentos interpessoais gratificantes, por manifestarem por vezes dificuldade em empatizar com os sentimentos e experiências dos outros, passar estas nossas aprendizagens aos clientes ou a quaisquer outros (mais ou menos) significativos será certamente uma passagem de testemunho essencial para perpetuar o poder da empatia à nossa volta!
Abramson, A. (2021). Cultivating Empathy, Monitor on Psychology, American Psychological Association. 44-52.
Yalom, I. D. (2006). Os Desafios da Terapia: Reflexões para Pacientes e Terapeutas. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações S.A.