Antes de começarmos faço já o disclaimer: não há carreiras à prova de imprevistos, lamento imenso informar…
É claro que olhar para o presente pode-nos fazer sentir que é difícil (ou até impossível!) antecipar o futuro; estamos numa era de mudanças em ritmo estonteante, em que até pilares que nos parecem basilares – tal como os valores da democracia – poderão ser facilmente abaláveis do que nos poderia parecer possível. É, por isso, natural que sintamos que planear o futuro pode ser um exercício desmotivador, ou até um trabalho em vão.
Foi este cenário que serviu de mote ao segundo ebook PsiCarreiras, recentemente lançado, “Carreira em Psicologia num Mundo Imprevisível“, com pistas para “navegar” com confiança e adaptabilidade. O ebook tem três partes: uma primeira dedicada à reflexão em torno do cenário da imprevisibilidade, mudança e incerteza; uma segunda em torno de competências a desenvolver para lidar com tais desafios; e uma terceira onde se exploram ferramentas para inovar e ter maior controlo na carreira.
No fundo, como poderemos cultivar em nós uma melhor capacidade para fazermos face a tais desafios? Deixo algumas ideias abaixo, que nos podem fazer ter uma gestão pessoal de carreira mais robusta, que nos ajudam a ajustar a nossa rota e aproveitar a nosso favor um contexto mais complexo.
1. Abraçar a Incerteza – afinal ela é, de facto, uma certeza. Planear sim, mas cultivar abertura e sensibilidade para o que é imprevisto e inesperado. Desenvolvermos atitudes alinhadas com a curiosidade, flexibilidade, tomada de riscos calculados, e competências como a criatividade, poderá facilitar os esperados ajustes que teremos de fazer ao longo da vida (pessoal e profissional).
2. Manter um posicionamento no mercado permeável à mudança. Se é verdade que é fundamental comunicarmos de forma clara a nossa área de intervenção, também o é em relação à importância de, ao longo da nossa carreira, podermos adoptar diferentes posicionamentos. Seja pela evolução dos nossos interesses, competências ou necessidades no equilíbrio com a vida, ou pela forma como surgem novas necessidades e áreas de intervenção na Psicologia. Vejamos o quão estimulante pode ser virmos a ser especialistas em diferentes áreas ao longo da nossa vida profissional, por exemplo – nenhum caminho é necessariamente impossível, desde que com intencionalidade e preparação (e ética e responsabilidade…) o percorramos.
3. Acompanhar o progresso, não perdendo de vista as tendências e actualizando as nossas Competências Digitais. Muito embora possa ser natural a resistência à novidade quando o ritmo acelerado com que surgem ferramentas tecnológicas que têm poder para revolucionar o mundo, a História também nos mostra como quem não acompanha minimamente essa mudança, também tende a ficar “de fora”. É hoje praticamente impensável pensarmos na vida sem comunicação por e-mail, por exemplo; parece agora mais do que certo que a Inteligência Artificial vai ser uma certeza no futuro – teremos, portanto, de nos informar e formar perante uma nova realidade.
4. Não esquecer o actor principal. Ou seja, não perder de vista o autocuidado. Se tudo em redor nos parece mais difícil de controlar, podemos centrar-nos mais em nós próprios: como profissionais e como pessoas. Seja através do desenvolvimento profissional contínuo (actualização constante através de formação, supervisão, etc.), seja nas mais simples acções de autocuidado do dia-a-dia, estarmos cientes de que somos a nossa melhor ferramenta e que, estando saudáveis, estaremos sempre mais aptos a nos adaptarmos.
5. Incerteza também traz oportunidades. Se a tendência é olharmos a incerteza como fonte de dificuldade, também podemos colocar a lente do optimismo realista e prepararmo-nos para olhar para acontecimentos imprevistos como possibilidades que, não tendo sido por nós previstas, podem ser de grande proveito para a gestão da carreira. Veja-se a teoria do planned happenstance de Krumblotz. Não se trata de “dourar a pílula” ou positividade tóxica; apenas de se olhar para o imprevisto como algo que contribui para a concretização de outros cenários que, se os abordarmos mais munidos de ferramentas, nos podem ser mais favoráveis do que o que inicialmente perspetivávamos.
Ah, e lembremo-nos também que ajudar outras pessoas a desenvolverem competências para a sua gestão de carreira neste cenário dito caótico é trabalho dos Psicólogos, nos mais diversos contextos (ajudar uma pessoa que, por incapacidade, tem de criar novo projecto de vida; contribuir para a capacitação e educação dos mais novos; apoiar os ajustes organizacionais, entre tantos outros possíveis cenários…) – posicionemo-nos, por isso, para dar resposta a essa necessidade.
O que nos trará o futuro? Estou curiosa para ver…